sexta-feira, 25 de julho de 2008

9 segundos.

costuma durar nove segundos. pode parecer mediocridade contentar-se com tão pouco, mas ao me postar numa esquina estrategicamente escolhida e sentir o sol invernal afagar suavemente minha pele com seus raios mornos, meu corpo começa a se encher de uma expectativa quase infantil. um contentamento que não devia me pertencer aloca-se à minha mente quando o zéfiro calmo cruza a rua e encontra-se com meu rosto. a ansiedade não demora a me encontrar também, no nosso já rotineiro desencontro matinal e o coração já começa a bater um pouco acima do seu ritmo habitual.

e eis que as cortinas imaginárias se abrem majestosas e o espetáculo começa. o silêncio faz-se soberano e tudo ao redor deixar de existir temporariamente. o grande refletor suspenso no infinito do universo foca sua luz flamejante no rapaz que, sem saber, torna-se por alguns instantes a estrela de um pequeno show particular para uma platéia insignificante.

a mão esquerda afundada dentro do bolso do jeans. os passos displicentemente indecisos, contudo, paradoxalmente firmes. o cigarro em chamas preso entre os dedos da mão direita, sendo levado à boca como que por acaso. o modo como suspende minuciosamente os ombros e encaixa a cabeça entre eles. o jeito quase grosseiro com o qual ele ignora o que acontece ao seu redor enquanto cruza a calçada pavimentada. nada passa despercebido. cada detalhe irrelevante é captado com agilidade pelos meus olhos enquanto o oxigênio parece faltar por um momento e o músculo involuntário no meu peito parece disposto a quebrar sua cela feita de costelas e iniciar uma fuga acelerada.

mas nada compara-se à magia que existe em seus olhos castanho-claros, o verdadeiro evento principal do show. olhos tão expressivamente lindos que, quando ocasionalmente cruzam com os meus numa pequena discrepância casual, não posso evitar de olhar para outra direção. a imponência dos seus olhos me disarmam. com qual direito, eu não sei, mas essa é a verdade.

e então ele vira à esquina e as cortinas encardidas caem, indicando o fim do espetáculo. dura apenas nove segundos, mas não importa. as próximas 23 horas, 59 minutos e 52 segundos tornam-se inconscientemente nada além de uma espera pelo próximo show. o show de 9 segundos que satisfaz um coração vazio como se durasse horas...

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