segunda-feira, 21 de março de 2011

quando só resta dizer tchau.

“Volto quem sabe um dia
Porque os trilhos já tiraram do chão
Olho as tardes, vivo a vida
Nada é em vão.”

(Vanessa da Mata)




Sob Medida, Rua Portugal. É a milésima vez que nos sentamos ali pra tomar uma cerveja e conversar. Mas o clima dessa vez é diferente. Não há calma, risadas, olhares para as mesas ao lado, comentários, conversas filosóficas sobre nossas vidas patéticas e, ao mesmo tempo, tão únicas. Há olhos oceânicos e decisões que não podem ser adiadas. Há despedidas e, principalmente, há a sensação de pecar por amar demais.

Ironicamente, a vida te trouxe até a mim também numa mesa de bar, há remotos dois anos atrás. Estava, àquela época, aprendendo a lidar com a decisão de enfrentar o que eu era. Havia contado para algumas poucas pessoas e a liberdade que aflorava lentamente em mim ainda era contida, tímida, envergonhada. Faltava-me coragem, essa é a verdade. Ainda não era claro pra mim de que tal condição não afetava o que eu já fora e o que eu viria a ser.

E eis que tu entras em minha vida, chutando a porta da frente e colorindo as paredes acinzentadas com suas cores carnavalescas e alegres. Aceitou involuntariamente a missão de ser como um mestre pra mim, de me ensinar as peculiaridades desse novo caminho que eu viria a traçar. Foi paciente — na maioria das vezes—, foi sincero, foi cúmplice. Dividiu comigo os recônditos mais singulares da sua vida, os mais assustadores, os mais cheios de genuíno regozijo. Permitiu que eu também expusesse meus temores, minhas lembranças e todas as minhas vontades e desejos. Foram inúmeras conversas nas escadas do Jambalaia regadas a café, foram incontáveis experiências diárias compartilhadas com macarronas improvisadas. Foi solidário a ponto de deixar sua própria mãe também me chamar de filho, dividiu comigo seus amigos e aceitou todos os meus também. Adaptou-se como pôde ao meu gênio instável, enquanto também precisei aprender a conviver com sua personalidade forte.

Penso, depois de tudo isso, se as pessoas cruzam os caminhos uma das outras por puro acaso ou se cada encontro de trajetórias tem um intuito, um projeto. Porque sei agora que se não tivesse tido você, ainda seria um moleque inseguro, sem coragem de enfrentar novas experiências, sem a capacidade de acreditar que algo intrínseco a meu ser não precisa ser aceito por ninguém. Isso é o que sou. E foi você que me ensinou a aceitar isso.

Num mundo onde amor é raridade, espero que continuemos a pecar por amar demais. Isso prova que estamos vivos, que somos de verdade, que ainda somos parte de uma pequena parcela da raça humana apta a amar. Que cause despedidas, se esse for o preço a ser pago. Consequência que não pode retirar o valor de tudo que foi vivido antes.


Amo você, meu amigo, de coração.
Vamos devorar o mundo. Merecemos isso.

r.