domingo, 29 de março de 2009

Música de Outono: Great Lake Swimmers.

Viaje comigo por um instante. Feche seus olhos e tente imaginar um chalé rústico de madeira no topo de uma colina alta e verde. O céu, justaposto em fragmentos de cores vai do azul claro ao alaranjado causado pelo sol, se pondo lá no oeste distante. Seus últimos raios opacos viajam em sua direção, reluzindo em seus olhos cansados, enquanto um preguiçoso zéfiro outonal sobe a colina, fazendo o capim alto bailar harmoniosamente. Dentro do chalé, a madeira crepita lentamente na lareira e do fogão à lenha desprende-se um delicioso aroma de café fresco. O sol termina de afundar-se no horizonte e tudo que resta no céu é um manto avermelhado indicando a noite fria prestes a começar.


Se você consegue fantasiar essa cena em sua mente, coloque mais um ingrediente nessa nostálgica imagem: uma vitrola velha no cantinho do chalé, tocando uma bolacha melancólica do Great Lake Swimmers. Definitivamente, o som desses caras é a trilha-sonora para um momento desses.

A banda de indie-folk tem sua origem no Canadá, país que tem nos dado ultimamente ótimas bandas de presente, como o Arcade Fire e a Leslie Feist, sem contar a super duper talentosa Avril Lavigne (piadinha infeliz, mil desculpas). A banda é liderada por Tony Dekker, que além de estar a frente das composições e do vocal suave e aveludado, também toca o violão e a gaita.






O Great Lake Swimmers lança nessa terça-feira, dia 31, seu 4º álbum de estúdio, Lost Channels, álbum o qual eu estou escutando nesse exato momeno. Coisas desses tempos modernos, já que tudo agora vaza antes da data de estreia. Entretanto, eu achei mais conveniente destacar o 3º álbum dos caras, o Ongiara, por ser aquele mais afundado nessa atmosfera de chalé-no-alto-da-colina que citei no começo do post.


Já nos primeiros acordes de "Your Rocky Spine", faixa de abertura do disco, o banjo harmonioso mostra as fortes influências folk e antes da bateria fazer sua entrada suave, Dekker sussurra "I was lost in the lakes and the shapes that your body makes". É o início de uma viagem solitária por montanhas, lagos e céus, mas fica devidamente claro que é uma solidão imposta.

"Backstage with the Modern Dancers" é mais uma canção sobre a solidão, mesmo quando estamos cercados de pessoas por todos os lados. Enquanto Dekker "faz uma lista de canções que ele pode cantar sozinho", a intensidade da música nos dá a sensação de não fazer parte do show, sermos apenas espectadores de nossas próprias vidas.

Os violões suaves, os arranjos de cordas e o vocal ameno mas vigoroso de Dekker nos guia até a faixa 4, "Changing Colours", uma canção sobre os riscos do amor, sobre amar tanto uma pessoa que não importa o que aconteça, você estará lá com ela:

'Cause when the wind takes you, it takes me, too.
When you change colours, I change mine, too.
Try not to think and I will try, too.
And when you let go, I will let go, too.

E depois da procura incessante pela amada ("Where in the World are you Now") e da apropriada canção para a viagem que é esse disco ("Passanger Song"), hora de fechar a janela do chalé para se protegem do frio e perceber que estamos em plena mutação e que, quando nos deitamos na cama à noite, não somos mais os mesmos que éramos pela manhã "I was heavy, but now I am light", Dekker termina sibilando.

Bom, meus textos críticos costumam ser uma droga, por isso que não gosto muito de escrevê-los. Mas vale muito a pena fazer de Ongiara a trilha sonora desse outono. Basta clicar na capa lá no começo do post para baixá-lo e, aqui abaixo, você assiste ao belíssimo clipe de "Your Rocky Spine".

Bom domigo pra todo mundo. =)

terça-feira, 24 de março de 2009

temporada de outono 2009.

não é segredo algum que eu sou um fervoroso fã do outono. época em que minha pele agradece pelo sol ameno, meu cérebro agradece pelas brisas de boas ideias e inspiração e meu coração agradece pela esperança e pelas paixões prestes a serem vividas. e se o verão é tão cultuado e ganha suas temporadas na mídia em geral, o rapha (do contra) aqui acha muito justo a melhor época do ano ter sua merecida homenagem. portanto, durante os próximos 3 meses, estamos oficialmente em temporada de outono.

então você se pergunta: e daí? ¬¬'


e daí que novos posts e novas ideias (agora sem acento) serão colocadas em prática pra alegrar os infelizes que ainda visitam esse blog inútil (rs):
  • arte de outono: sempre uma dica de um bom álbum, filme ou livro que tenha a ver com o clima outonal;
  • dandara glitter show: o carnaval não foi tempo o suficiente pra dandara luz mostrar todo o seu brilho. portanto, uma vez por mês o blog é todo dela pra entrevistas, fofocas e tudo mais que der na telha;
  • bernardo e o outono: primeiro conto (de muitos outros, eu espero) escrito exclusivamente para esse blog.
aguardem detalhes sobre as novas atrações muito, muito em breve.
e um ótimo outono pra todos nós. ;)

ps: essa foto líndissima de outono foi roubado desse
flickr aqui.
era só o que faltava, gatuno de fotos, rs.

domingo, 15 de março de 2009

sobre rotina e cotidiano.

o tempo não é tão concreto quanto nós pensamos. essa concepção exata de que cada ano tem 365 dias e cada dia 24 horas pode soar confortável para nós, tão apegados a paradigmas e necessitados de algo firme abaixo de nossos pés. meus dias andam estranhamente curtos. as 24 horas que me são dadas para completar todas as minhas obrigações não me parecem ser suficientes nunca. o tempo para os amigos acabou; internet? putz, deve fazer um mês que não troco uma palavra com as minhas 2 bias; dezenas de leituras para a faculdade se acumulando, textos esperando para ser redigidos e o trabalho consumindo todas as minhas energias físicas... e se você achar esse texto deveras mal escrito, perdão, mas é o desgaste intelectual de uma tarde chuvosa de estudo.

meus dias agora começam às 7:20. eu não ligo de acordar cedo, sempre fui um apreciador das manhãs e de sua temperatura amena, mas o estridente berro do despertador é um incômodo com o qual ainda não me acostumei. dá tempo de um bom café quente, uns minutinhos de ócio no sofá da sala e de arrumar a mochila. ando esquecido: é folha que fica pra trás, uniforme da loja que fica na gaveta, até o boleto para pagar a faculdade esqueci no última dia que tinha para quitá-lo. ainda checando se tudo que preciso está no interior da mochila, às 7:50 começa uma das horas mais agradáveis do dia: uma caminhada até o serviço, com direito a sol entre as árvores e céu de um azul opaco nostálgico. eu sei que vivo falando de caminhadas aqui no blog, mas não sei se vocês conseguem entender que esses minutos costumam ser um encontro comigo mesmo, aquela hora em que faço um balanço, coloco a cabeça no lugar, vejo o que tá certo e o que tá errado. cada um tem seu próprio método de fazer esse balanço e esse é o meu. também vale salientar que essa caminhada faz MUITOOO bem para as minhas retinas num certo momento, mas é melhor me abster de demais comentários (rs).

às 8:30 começa o turno na casa do doce, emprego no qual completo um ano essa semana. em certos dias tudo corre uma maravilha, o serviço rende, a hora voa e eu não me aborreço. entretanto, na maioria dos dias o stress torna-se presente no serviço: é intriga entre funcionários, fofoca, parceiro de trabalho mal humorado, briga, suor, calor, estoque bagunçado, clientes
irritantes, pilhas e pilhas de mercadoria para serem arrumadas... deus, o cansaço físico e mental é inevitável durante as 8 horas que passo lá. infelizmente eu tenho sentido uma necessidade grande de procurar outra fonte de renda nesses últimos dias, mas enquanto der pra ir empurrando com a barriga, estou lá firme e forte cumprindo meu papel.

o horário de almoço tem 2 finalidades: os de segunda, quarta e sexta acontecem de meio-dia à 1:30 e são destinados ao estudo. não tenho tido outro tempo pra ler e a marmita tem dividido espaço com textos xerocados e marca-textos. nos dias de maior calor, dou uma escapadinha pro shopping pra filar um pouco do ar-condicionado enquanto estudo. já às terças e quintas meu almoço é junto com o do gu, de 10:30 ao meio-dia e aproveitamos pra dar uma volta, colocar a conversa em dia e passar um pouco de tempo junto, o que também se tornou difícil perante esses novos horários apertados.


às 5:50 é hora de trocar o uniforme multicolorido da casa do doce e seguir para a faculdade de filosofia santa dorotéia. não conte pra ninguém, mas
o tempo que passo cercado daquela áurea acadêmica tem se tornado as 5 melhores horas do dia. às vezes me sinto verdadeiramente ignorante diante da inteligência plena dos professores, às vezes me sinto estúpido por falar coisas irrelevantes ao assunto discutido, e outras vezes me sinto deveras contente com o crescimento intelectual que sei que vou adquirir nesses 4 anos quer estarei entre suas paredes. as primeiras amizades já começam a aparecer, já começo a tomar verdadeiro gosto por certas pessoas, as primeiras risadas começam a aparecer nos rostos e aquela trajetória de 4 anos que parecia assustadora outrora parece agora fácil e agradável. fácil no sentido social, que fique claro, porque nós, calouros do 1º período de Letras estamos apavorados com a iminência de provas e trabalhos. um temor mais do que normal pra nós que estamos experimentando pela primeira vez a pressão de ser aluno da melhor faculdade de Letras do estado.


um ônibus abarrotado me traz de volta para casa e às 10:30, quando chego, já sou apenas um bagaço do que era um ser humano de manhã. às vezes o cansaço é tanto que abdico de me alimentar pra tomar um banho e me jogar na convidativa cama. mas quando o estômago ronca, o microondas entra em ação enquanto fuxico rapidinho o que aconteceu na minha não mais ativa vida virtual. os scraps são respondidos com prazer, porque depois de um dia árduo é ótimo receber um carinho das pessoas que realmente me amam. mas a cama me espera, não dá pra dar mais a atenção que vocês merecem. me desculpem por isso, viu?

tento manter o hábito de leitura à cama, mas não consigo ir mais longe que 5 páginas - num dia bom. as pálpebras pesam e o negrume do sono afoga impiedosamente as palavras do livro. os sonhos não vêm, o sono é inquieto e às vezes, às 3 da manhã estou de olhos abertos mirando o teto do quarto. reflexos do cansaço acumulado e da expectativa da rotina que já está prestes a recomeçar.

esses dias eu fui infeliz ao tecer um comentário com o gu dizendo que essa era a época mais triste da minha vida. eu não estou triste exatamente, apenas me adaptando a essa nova vida corrida e cansativa. na verdade, o problema sempre vai cair na lacuna não-preenchida.
mas esse papo-chato-reprise-da-reprise fica pra um momento mais oportuno. daqui a pouquinho é hora de começar tudo de novo...

"todo dia eu só penso em poder parar
meio dia eu só penso em dizer não
depois penso na vida pra levar
e me calo com a boca de feijão"
- chico buarque, "cotidiano"

domingo, 1 de março de 2009

a desagradável arte do flerte.

bem-aventurados aqueles que já possuem um namoro, casamento, ou até mesmo um tico-tico-no-fubá e não precisam mais passar pela patética fase da paquera, do tô-te-dando-mole, dos olhares desejosos e dos flertes. porque, deus do céu, FLERTAR SUCKS. ¬¬'

uma vez eu li uma entrevista do jack johnson (surfista e músico nas horas vagas, ou vice-versa) onde ele dizia que conquistou a mulher que viria a ser sua esposa na primeira vez em que a viu: assim que ela entrou no refeitório da faculdade em que eles estudavam, eles trocaram intensos olhares, mantidos por vários e vários segundos. e eis a preciosa dica de mr. johnson: nunca seja o primeiro a desviar um olhar quando estiver flertando com alguém.

okay, na teoria é lindo... mas eu não consigo deixar ninguém nem perceber meus olhares, quanto mais mantê-los deliberadamente num momento sublime de puro contentamento (o que quer que isso signifique, rs). meus olhares são furtivos, escondidos na escuridão de um mundo clandestino, sorrateiros como um saqueador no momento do ato ilícito. são poucas as pessoas que conseguem captar o exato momento em que meus olhos expressam meus desejos mais enraizados. há, entretanto, os momentos em que propositalmente deixo meu olhar se encontrar com o de outra pessoa, e então é dada a tragédia: minha expressão facial se contorce, meus passos tornam-se mecânicos e desengonçados e tudo soa desesperadamente artificial. é um equívoco inquestionável toda vez que tento forçar a situação a esse extremo.

e se os olhos são de crucial importância para o flerte, logo após vem a linguagem corporal; afinal, quem nunca deu aquela encolhida na barriga quando a pessoa que lhe interessa passa? "onde coloco a mão? nos bolsos? deixo-as livre? deus, ele vai me achar patético." daí uma curvadinha para a esquerda, infla um pouco o peito e fica parecendo um pombo empertigado. você se acha super sexy e acha que acabou de ganhar o coração dele. "por que essa pessoa tá praticando contorcionismo na minha frente?" é o que ele se pergunta.

e tudo isso citado acima ainda não é a pior parte de flertar para mim: no caso de vocês, é fácil saber para quem lançar charme e onde estão suas verdadeiras chances de se dar bem. mas tente fazer isso às cegas, com a iminente hipótese de tomar uns sopapos na cara por estar lançando olhares pra pessoa errada. é por isso que eu tenho sempre um belíssimo discurso de defesa montando à mente:

(raphael olhando pra quem não devia)
(quem não devia arqueando as sobrancelhas)
- coé, que 'cê tá olhando, rapá?
(raphael olha pros lados, aponta o indicador para o próprio peito)
- oi? é comigo?
(quem não devia empurra raphael, aborrecido)
- tu tá me manjando, brother? cê tá maluco? perdeu a noção do perigo?
- ué carlos? você não lembra de mim, não? nós estudamos juntos no 3º ano.
- meu nome não é carlos, brother.
(pausa dramática; raphael faz uma expressão teatral, arregala os olhos e gagueja um pouco para dar mais verossimilhança à atuação)
- nossa, mas você é a cara do carlos, cara! putz, se fosse irmão gêmeo era capaz de não parecer tanto. (passos lentos pra trás, desvencilhando-se devagar da conversa) foi mal aí, tenha uma boa tarde! se cuida, até mais ver! (sumindo na primeira esquina próxima).

pois é, vida de solteiro não é tão fácil assim como as pessoas costuma dizer. quem dera as coisas fossem como no cinema, um momento meio celine e jesse, um convite num trem pra ir comer alguma coisa no vagão-restaurante...


... mas a vida não é um blockbuster hollywoodiano e nossos flertes estúpidos nunca serão um momento digno de ser retratado em 35mm.