segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um contador de Histórias

A Tale from Decameron, J. W. Waterhouse

Talvez eu tenha nascido assim: com uma vontade inata de contar histórias. Lembro-me pequeninho, quando subíamos para a escola e eu me prostrava ao meio para contar minhas fábulas para meu seleto público de duas pessoas, no maior estilo Canterbury Tales. Era pequeno demais para saber de coisas como clímax, mas deixava sempre um gostinho de quero-mais para continuar a história no dia seguinte - e para mantê-los interessados no que estava por vir. Mais tarde, as histórias passaram para os cadernos, os cadernos passaram de mãos em mãos e eis que me tornei um adolescente que gastava seu tempo criando tramas mirabolantes para entreter meus amigos. Começou com contos e narrações curtas e terminou, lá pelo terceiro ano, com um romance de 700 páginas, escritas à mão (o que multiplica o esforço para 1400 páginas, se contarmos o rascunho anterior). Só pode ser uma vontade inata de contar histórias. Só pode ser.

O sob o boné foi, por longo tempo - exatos 4 anos - o lar desse meu desejo incontrolável. Aqui nasceram narrações biográficas, Cinzento e sua trupe da floresta, Heitor, Cecília e seus conflitos musicais, além dos contos que terminaram por figurar em Antologias através de concursos. Sobre a qualidade das histórias narradas, a relevância dos temas, não posso garantir muita coisa; apenas sei que escrevê-las acalmava minha alma.

Foi então que no início deste ano começamos o blog "As Crônicas do Edifício Cinza" e por muito tempo não sentia uma satisfação tão grande com algo criado por mim. Escrever a história de Ulisses - um rapaz com devaneios romanescos, tentando sonhar numa cidade cinza - é o que por muito tempo eu tenho querido fazer e não estava conseguindo. Talvez pelo impulso coletivo, por contar com gente tão boa empenhada em fazer deste blog um lugar bacana na internet, não tenha desistido previamente, como faço com vários planos da minha vida.

A vida de Ulisses é o que eu escrever agora. Portanto, por ora, o sob o boné está fechando as portas. Não por dar mais importância a um projeto do que a outro (não foram poucas as vezes que falei sobre o valor do sob o boné na minha vida), mas sei que meu foco está principalmente no Edifício Cinza agora e que devo seguir, mais uma vez, essa minha obstinação por contar histórias.

Fica aqui um agradecimento do tamanho do mundo a todas as pessoas que participaram da existência do sob o boné, como leitor, como colaborador ou como inspiração. Tudo que escrevi aqui veio do coração e há uma verdade transparente no que fora narrado nas muitas palavras destes posts.

Para quem quiser continuar acompanhando minha escrita, o apartamento 302 do Edifício Cinza estará sempre de portas abertas. No link abaixo, você tem redirecionamento para todos os meus textos no blog:


Obrigado por tudo, pessoal. Vocês foram ótimos.

rapha.




Um comentário:

Chris Fernandes disse...

ah...quase chorei!Fico com pena mas entendo seus argumentos.Beijosssss