domingo, 16 de agosto de 2009

descoberta.


É como se já acordasse fatigado e indisposto e o máximo de esforço possível fosse se arrastar até o sofá e alienar-se com qualquer entretenimento fácil que não exigisse o trabalho de seus neurônios. Há um peso sobre ele, algo que o afunda no estofado gasto a ponto de poder ouvir suas costelas estalarem. Quando pode finalmente levantar-se, a tarde já ilumina a casa com seu ameno brilho invernal e o máximo que seu ânimo lhe permite é um ida à casa de um amigo. Não que isso represente grande diferença, já que o procedimento é o mesmo: televisão e o corpo estendido, inerte, preguiçoso. É assim que ele gasta aqueles que deviam estar sendo os melhor anos de sua vida.

Constantemente ele questiona-se o quanto daquilo tem relação com o rapaz de nome anacrônico que partiu seu coração. E surpreende-se ao perceber que muito pouco. A ferida aberta causada por ele já transforma-se gradualmente num pequeno risco rosado na epiderme de sonhos, uma efêmera cicatriz de expectativas frustradas. Continua exorcismando aquele fantasma com veemencia, mas o poder que ele exercia sobre seus sentimentos não existe mais.


E ao deitar a cabeça no travesseiro e mirar os desenhos assimétricos feitos no teto pela infiltração, ele percebe que está de volta ao vazio que sempre o acompanhou antes da aparição miraculosa do cabofriense. Fora iludido com promessas de que dessa vez ia ser diferente, mas é exatamente a mesma coisa que sempre sentiu e só precisa de um pequeno espaço de tempo para acostumar-se novamente àquela solidão. Uma solidão que não tem nada de doce, ele bem recorda-se agora.

Quando o sono promete anestesiá-lo e em meio às primeiras imagens oníricas em suas pálpebras, a descoberta está finalmente feita, nítida e pulsante entre seus primeiros devaneios:

"Eu preciso URGENTEMENTE ser amado."

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