Embora
música seja uma das minhas paixões mais veementes, preciso confessar que sou
deveras displicente com a apreciação dos álbuns mais comentados do ano, com os
lançamentos mais quentes da banda mais hype, com os clipes que todos estão
comentando e até mesmo com os novos álbuns de bandas que já são membros
honorários da minha lista de artistas favoritos — o Biophilia, por exemplo,
ainda está na eterna lista de álbuns para serem ouvidos com um cuidado extra.
Parte disso é dado pelo cotidiano corrido, que, muitas vezes, não permite a
degustação musical da forma que você gostaria de fazer — sentando
confortavelmente, com fones no ouvido, com as letras na mão, num ambiente
propício à boa audição dum álbum; a outra parte é dada pela minha preguiça
mesmo, não vou negar (sou um preguiçoso de carteira assinada e não tenho
cara-de-pau para desmentir tal fato).
Não
obstante, durante todo o ano de 2011, muita música foi ouvida por esse ser que
vos escreve diretamente deste irrelevante blog. Sempre tento conciliar minha
música antiga, minhas bandas favoritas, com alguns lançamentos pertinentes —
como veremos na lista abaixo —, com artistas indicados por amigos, que já
conhecem meu gosto — esse ano, por exemplo, pirei nos álbuns do Jens Lekman,
indicação antiga da Bia — e com bandas clássicas, obrigatórias, como o
Bookends, do Simon and Garfunkel, que ouvi à exaustão durante todo o ano. E
quando começam a pipocar (lindo verbo, alguém me contrata para ser crítico de
micareta?), em meados de dezembro, todas as listas com os melhores discos do
ano, vejo o tanto de coisa que foi ficando para trás e que terei que ouvir numa
outra ocasião. Mas não importa: listados abaixo, os meus cinco álbuns favoritos
do ano. Se quiserem, enviem por comentários a lista de vocês, com seus discos
favoritos de 2011. Seria bacana.
5. “Let England Shake”, PJ Harvey.
Obviamente,
sempre tive conhecimento de que PJ Harvey é uma das cantoras mais importantes
do cenário musical atual, mas nunca havia escutado um álbum inteiro dela.
Peguei-me, certa manhã, extasiado pelo clipe de The words thar maketh murder, pela voz marcante acompanhada, em
algumas partes, apenas por uma cítara. E o êxtase simplesmente se estendeu
diante das doze faixas que compõem o belíssimo e intimista Let England Shake. Com letras de bela poesia, Harvey desbrava a
Inglaterra pós-Primeira Guerra Mundial, descrevendo os horrores da guerra — “I've seen soldiers fall like lumps of meat”,
canta ela em The words the maketh murder
—, a paisagem cinzenta do seu país natal e as consequências da guerra. Mas o
álbum vai muito além de referências históricas, com suas melodias trabalhadas,
e a bela voz de Harvey guiando o trabalho de forma fenomenal.
- Faixas favoritas: The words that maketh murder, England e Hanging in the wire
4. “Canções de
Apartamento”, Cícero
Escrevi
sobre o disco do carioca Cícero há alguns dias atrás aqui no blog e não posso
deixar de citá-lo também nesta lista. Canções
de apartamento foi mais que um álbum, foi um companheiro diante de coisas
que eu estava passando, foi trilha sonora de noites reflexivas, seus versos
foram poesias para verdades que eu precisava enfrentar. Representante da nova
safra de ótimos artistas brasileiros, Cícero é dono de uma poesia bonita e
cotidiana, que coloca tão vivamente nos seus versos. O clima intimista que sua voz
sussurrante e o violão dedilhado sugerem é, muitas das vezes, o que mais
procuro na música. É onde me sinto em casa num álbum — e, cabe aqui, novamente,
mas um agradecimento a ele por ter aberto a porta do seu apartamento e ter nos
dado esse álbum lindo de presente.
- Faixas favoritas: Tempo de Pipa, Ensaio sobre ela e Açúcar ou
adoçante?
Post anteior sobre o álbum
canções de apartamento aqui.
3. Metals, Feist
Leslie
Feist é, já há algum tempo, minha cantora contemporânea favorita. Já esperava
um trabalho lindo dela, obviamente, e, embora o Reminder permaneça como meu favorito, Metals é um álbum de muita beleza, que a afasta do pop de 1,2,3,4, por exemplo, e mostra a vontade de se arriscar em novas sonoridades, novos desafios. A potente voz da canadense, suas
composições intimistas, seus arranjos que, às vezes, beiram o obscuro se juntam
num trabalho completo e surpreendentemente bonito.
- Faixas favoritas: Graveyard, How come you never go there e Antipioneer
2. Toque Dela, Marcelo Camelo
Como todo bom fã
de Los Hermanos, tenho dificuldade, às vezes, de ser imparcial sobre os novos
trabalhos dos ex-integrantes da banda:
sou fã do debut do Little Joy e o Sou,
primeiro solo do Camelo, foi declarado, hiperbolicamente, como álbum da minha
vida há algum tempo atrás (leia post aqui). Toque
Dela“Triste é viver só de solidão”, dando
aos desavisados a falsa ideia de que o caminho a ser trilhado será novamente a
tristeza que permeia o Sou do começo
ao fim. Mas Toque Dela é uma ode ao
amor, sutil, sussurrada, mas de beleza ímpar. até prega uma peça nos seus primeiros versos, quando, à voz
sussurrante e instrumentação melancólica, Camelo declara que
A
mudança de sonoridade de um disco para o outro pode ser explicada pelos novos
ares tomados por Camelo, que largou o Rio de Janeiro para morar em São Paulo, perto da
namorada Mallu Magalhães. Ela, presença marcante no dueto de Janta do primeiro álbum, desta vez
aparece apenas num singelo backing vocal na faixa Vermelho — uma das mais belas do álbum. Mas sua presença,
entretanto, permeia toda a temática das canções e os motes dos versos cheios de
paixão incondicional. É o amor dos dois que é recitado lindamente nos versos
das 10 canções que compõem o álbum.
Também
conferi a apresentação ao vivo do cara no Circo Voador num dos primeiros shows
da nova turnê e pude presenciar um Camelo feliz, sorridente e, principalmente,
satisfeito com o resultado do seu trabalho. É do Camelo meu segundo álbum
favorito do ano.
- Faixas favoritas: A noite, Tudo que você quiser, Três dias e
Vermelho.
1. Bon Iver, Bon Iver
Justin
Vernon saiu da cabana. E, o pior de tudo, não avisou para a gente.
Como
todo bom fã que tem paixão pelo For Emma,
Forever Ago, não foi fácil achar Vernon fora de sua hibernação, deixando de
lado os violões dedilhados e as letras heartbreaking que consagraram seu
primeiro trabalho. Mas, não é à toa que Perth,
a faixa que abre o segundo e espetacular álbum do Bon Iver — destaque em praticamente
todas as listas de álbuns do ano das principais revistas dedicadas a música — começa
com um silêncio profundo de 6 segundos, como se afastasse os últimos resquícios
do álbum anterior e convidasse para uma nova jornada, uma nova experiência.
Os
que aceitam o desafio embarcam numa viagem por mundos de sonhos criados por
Vernon, por uma experiência auditiva que vai além dos limites dos sons criados
pelos violões melancólicos, os sintetizadores que salpicam as faixas, a
bateria, ora marcante como de uma banda marcial, ora coadjuvante dos arranjos
cheio de nuances — é possível ouvir um sininho de bicicleta em Michicant, por exemplo — e,
principalmente, da potente voz de Justin Vernon, do seu falsete tão característico.
As composições também refletem essa aura onírica, já que Vernon tem um jeito
peculiar de compor, preocupado muito mais com a sonoridade das palavras do que
com o valor semântico delas — o que torna alguns versos sem sentido, outros um
tanto herméticos para serem compreendidos. Os nomes das canções representam
lugares, sejam eles de verdade, sejam lugares imaginários, o que reflete muito
bem a forma como a mente funciona durante os sonhos.
Aumentando
a experiência, há pouco tempo foi lançando a versão deluxe do álbum, que contém
um DVD com vídeos para cada uma das faixas, o que leva Bon Iver para um patamar áudio-visual. Uma verdadeira obra de arte,
desde a belíssima capa, é de Justin Vernon e seu Bon Iver meu álbum favorito
dentre os lançados neste ano.
- Faixas favoritas: Perth, Michicant, Wash. e Beth/Rest.
2 comentários:
O album do Cicero eu já conhecia. Os demais que você citou, baixei no domingo e venho ouvindo este então. O do Bon Iver em especial, me pegou. Me peguei em determinados momentos apenas sentando e ouvindo, apreciando, como se degustasse a música.
Curto muito seu blog, nunca comentei, mas sempre leio.
;)
Faz 6 meses que esse álbum do Bon Iver saiu e ainda me pego descobrindo coisas a cada nova audição. Fico feliz que tenha gostado e, principalmente, que acompanhe o blog. Abraços. =)
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