meus dias agora começam às 7:20. eu não ligo de acordar cedo, sempre fui um apreciador das manhãs e de sua temperatura amena, mas o estridente berro do despertador é um incômodo com o qual ainda não me acostumei. dá tempo de um bom café quente, uns minutinhos de ócio no sofá da sala e de arrumar a mochila. ando esquecido: é folha que fica pra trás, uniforme da loja que

às 8:30 começa o turno na casa do doce, emprego no qual completo um ano essa semana. em certos dias tudo corre uma maravilha, o serviço rende, a hora voa e eu não me aborreço. entretanto, na maioria dos dias o stress torna-se presente no serviço: é intriga entre funcionários, fofoca, parceiro de trabalho mal humorado, briga, suor, calor, estoque bagunçado, clientes
o horário de almoço tem 2 finalidades: os de segunda, quarta e sexta acontecem de meio-dia à 1:30 e são destinados ao estudo. não tenho tido outro tempo pra ler e a marmita tem dividido espaço com textos xerocados e marca-textos. nos dias de maior calor, dou uma escapadinha pro shopping pra filar um pouco do ar-condicionado enquanto estudo. já às terças e quintas meu almoço é junto com o do gu, de 10:30 ao meio-dia e aproveitamos pra dar uma volta, colocar a conversa em dia e passar um pouco de tempo junto, o que também se tornou difícil perante esses novos horários apertados.
às 5:50 é hora de trocar o uniforme multicolorido da casa do doce e seguir para a faculdade de filosofia santa dorotéia. não conte pra ninguém, mas o tempo que passo cercado daquela áurea acadêmica tem se tornado as 5 melhores horas do dia. às vezes me sinto verdadeiramente ignorante diante da inteligência plena dos professores, às vezes me sinto estúpido por falar coisas irrelevantes ao assunto discutido, e outras vezes me sinto deveras contente com o crescimento intelectual que sei que vou adquirir nesses 4 anos quer estarei entre suas paredes. as primeiras amizades já começam a aparecer, já começo a tomar verdadeiro gosto por certas pessoas, as primeiras risadas começam a aparecer nos rostos e aquela trajetória de 4 anos que parecia assustadora outrora parece agora fácil e agradável. fácil no sentido social, que fique claro, porque nós, calouros do 1º período de Letras estamos apavorados com a iminência de provas e trabalhos. um temor mais do que normal pra nós que estamos experimentando pela primeira vez a pressão de ser aluno da melhor faculdade de Letras do estado.
um ônibus abarrotado me traz de volta para casa e às 10:30, quando chego, já sou apenas um bagaço do que era um ser humano de manhã. às vezes o cansaço é tanto que abdico de me alimentar pra tomar um banho e me jogar na convidativa cama. mas quando o estômago ronca, o microondas entra em ação enquanto fuxico rapidinho o que aconteceu na minha não mais ativa vida virtual. os scraps são respondidos com prazer, porque depois de um dia árduo é ótimo receber um carinho das pessoas que realmente me amam. mas a cama me espera, não dá pra dar mais a atenção que vocês merecem. me desculpem por isso, viu?
tento manter o hábito de leitura à cama, mas não consigo ir mais longe que 5 páginas - num dia bom. as pálpebras pesam e o negrume do sono afoga impiedosamente as palavras do livro. os sonhos não vêm, o sono é inquieto e às vezes, às 3 da manhã estou de olhos abertos mirando o teto do quarto. reflexos do cansaço acumulado e da expectativa da rotina que já está prestes a recomeçar.
esses dias eu fui infeliz ao tecer um comentário com o gu dizendo que essa era a época mais triste da minha vida. eu não estou triste exatamente, apenas me adaptando a essa nova vida corrida e cansativa. na verdade, o problema sempre vai cair na lacuna não-preenchida. mas esse papo-chato-reprise-da-reprise fica pra um momento mais oportuno. daqui a pouquinho é hora de começar tudo de novo...
"todo dia eu só penso em poder parar
meio dia eu só penso em dizer não
depois penso na vida pra levar
e me calo com a boca de feijão"
- chico buarque, "cotidiano"
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