domingo, 5 de setembro de 2010

10 coisas para fazer antes de morrer.

Não estava nos planos assistir a um filme triste neste fim de semana, mas parece que este é um dos típicos casos onde o filme te escolhe, e não o contrário. Sem sentimentalismo barato, sem pieguice ou dramalhão mexicano, "Minha Vida Sem Mim", de 2003, é o tipo de filme que te leva a uma reflexão verdadeira sobre sua própria vida, sobre o que você está fazendo com ela e o que você está perdendo, mesmo sabendo que seu tempo aqui é breve e finito.

Eu devia ter mantido uma garrafa de Gatorade por perto, porque confesso que acabei de assistir ao filme desidratado. É o tipo de película que comprime seu peito, que tira seu ar pela sinceridade do texto e das atuações. Foi doloroso assistir, essa é a verdade. Foi um soco na cara diante de tudo que passei nas últimas semanas (vide posts anteriores) mas, ao mesmo tempo, foi um impulso generoso para a minha necessidade gritante de viver.

Não farei sinopse, resumo, crítica, nada do gênero. Gostaria apenas de citar uma das cenas mais destrutivas para esse pequeno bobão sentimental que vos fala, quando Ann senta-se numa cafeteria, depois de saber que tem apenas 3 meses de vida, e lista as 10 coisas que ela precisa fazer antes de morrer. O mais perturbador nessa cena é que ela era uma moça jovem, com toda uma vida pela frente, mas que encontrava-se estagnada numa existência que precisou, paradoxalmente, da iminência da morte para ganhar vida.

Baseado nisso, fiz a minha singela lista das 10 coisas que pretendo fazer antes de deixar esse mundo. Porém, podem ficar despreocupados: eu não esperarei adquirir uma doença crônica para realizá-las. Promessa.

10 coisas para fazer antes de morrer.
  1. Amar. De todas as formas possíveis, com toda intensidade existente e inexistente. Sentir aquela necessidade sufocante por outra pessoa, que só sacia quando você está com ela, depositar todas os sentimentos puros e bons que existem dentro de mim em uma pessoa apta e merecedora de recebê-los;
  2. Estudar na Irlanda e conhecer a Europa. Ver o mundo, saber que a vida vai muito além dos quatro limites da minha cidade natal;
  3. Me esforçar cada vez mais para conhecer as pessoas que me cercam e me amam, e oferecer a elas apenas o que há de melhor em mim;
  4. Fazer algo de bom pelo mundo. Sei que soa piegas e simplório, mas é um desejo meu;
  5. Adotar 2 cachorros que receberão os nomes de Belle e Sebastian (houve toda uma reflexão sobre o segundo nome, mas resolvi que não o mudarei por insignificâncias);
  6. Fazer todas as loucuras das quais me privei (e ainda me privo), mesmo que seja fora do tempo correto, mesmo que eu pareça um tiozão besta se achando adolescente. Tudo que me faltou coragem quando era jovem ainda será feito;
  7. Mochilar pelo Brasil;
  8. Assistir aos shows de todas as bandas que significam tanto para mim, principalmente Kings of Convenience, Damien Rice e Belle and Sebastian. Mesmo que eu tenha que caçá-los pelo globo, já que perdi suas apresentações aqui no Brasil;
  9. Realizar-me profissionalmente em algo que realmente seja prazeroso, uma profissão onde eu me encaixe, me sinta cumprindo o que realmente vim fazer aqui;
  10. Deixar de usar boné. O que acabaria com o conceito e nomenclatura do blog, mas é necessário fazer sacrifícios na vida.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

fim da hibernação.

maybe the sun will shine today.
the clouds will roll away.

maybe i won't feel so afraid.

i will try to understand... either way.
(wilco)

Foram dias longos e frios de inverno, talvez o mais frio de todos que eu já presenciara. O vento cortante da serra congelava os traços de nossas faces, enquanto um arrepio mórbido e estranho subia-nos pela espinha, tomando conta de todos os sentidos de nossos corpos. Contudo, não foi apenas o frio exterior que caracterizou esse rigoroso inverno. Houve uma sensação térmica glacial que nem o mais felpudo dos casacos conseguiria conter, uma necessidade de calor humano que não emanou de canto algum. Não houve opção senão me recolher para hibernar.

Passei 28 dias trancados em minha caverna, um quarto escuro e úmido que incrementava a sensação de frio. Foram necessários muitos cobertores para amenizar tanto frio e confesso que esporadicamente eu mirava a janela, com uma esperançosa torcida para que flocos de neve embaçassem o vidro. Devaneios de uma mente um tantinho atormentada. Durante a semana, eu rolava a grande pedra que obstruía a entrada da caverna e ia cumprir meus compromissos com o trabalho e a faculdade. Não havia vontade, não era algo que me dava prazer, e executava tais obrigações já almejando a volta para a caverna. A trilha-sonora foi composta basicamente pelo álbum homônimo do Songs: Ohia. A melancolia de Jason Molina merecia até um "Música e Divagações" e esse álbum ganhou uma importância instântanea na minha discografia básica - já é, segundo os dados certeiros do last.fm, o álbum que mais ouvi nos últimos 6 meses.

A hibernação é, acima de tudo, um momento íntimo, de contato consigo mesmo. E, depois de tanto tempo, eu voltei a me sentir de uma forma que achei ter ficado num passado não tão distante. Voltaram as caminhadas nas tardes ensolaradas de domingo, as tardes vazias, o sentimento de solidão que faz o mundo parecer enorme demais. Os sentidos ficam aguçados, você passa a sentir as coisas de uma forma diferente, ver as coisas por uma outra ótica. A cabeça se torna uma metrópole em horário de rush, tamanha é a quantidade de pensamentos que a cruzam, se esbarrando com violência, causando um estúpida sensação de embriaguez, mesmo sem ver qualquer quantidade de bebida alcoólica há algum tempo. Não há tristeza. Você está apático demais para sentir-se triste. Há uma forte melancolia (des)colorindo tudo de bege, enquanto você sente a vida esvaindo-se lentamente pela fresta da janela entreaberta. Mas o inverno sempre passa, de uma forma ou de outra.

E quando os primeiros raios do sol primaveril lhe convidam, você se sente tentado a deixar o aconchego de sua caverna e ir apreciar o que o mundo tem a oferecer. Neste momento, eu estou voltando a me sentir vivo, a sentir o sangue correndo com pressa pelo meu organismo. Não sou o mesmo de 28 dias atrás, tenho novos pontos de vista, novos conceitos, novas verdades. E como principal lição disso tudo, aprendi que nunca devemos desaprender a ser sozinhos. A solidão está sempre nos espreitando, esperando um momento de vulnerabilidade para fazer moradia em nossas vidas. E quando você já está preparado para receber essa visita, tudo torna-se muito mais fácil de ser superado.

E quando o céu estiver nublado e os dias chuvosos parecerem não ter fim, há uma música do Wilco que sempre fará o mais perfeito sentido:

"talvez o sol brilhará hoje..."


ps: a analogia com a atitude dos ursos não tem qualquer relação com a quantidade exacerbada de pelos do meu corpo. sério. ¬¬'

domingo, 22 de agosto de 2010

conversas.

- Então é isso.
- Exatamente. Como diria Morrissey: “I was happy on a haze of a drunken hour, but heaven knows I’m miserable now.”
- Para com isso.
- O quê?
- Com essa coisa de ficar citando Smiths, Beatles e outras porcarias depressivas. Você está me irritando profundamente com essa mania idiota.
- Não é mania. Eles apenas expressam coisas que eu sinto.
- Você não sente nada. Do jeito que você é medíocre, sequer deve conseguir apreender o que eles querem dizer. Assiste a filmes com seu olhar superficial, lê livros de forma simplória, achando que são apenas um monte de palavras emboladas, sem entender o que está entrelinhas. Portanto, dá um tempo, okay?
- Ei, por que você está ficando tão irritado?
- Porque você é um ser humano frívolo e irritante, é por isso. E Eu não suporto mais esse monte de baboseira sem fundamento algum que você aponta como motivo dessa tristeza descomedida. Você é o típico caso do defunto que cava a própria cova, se enfurna lá e, em seguida, joga terra sobre o próprio corpo.
- Não fala do que você não entende.
- Eu entendo perfeitamente, não pense o contrário, seu covarde. Entendo com limpidez ímpar essas suas escusas esfarrapadas de que esta cidade está te matando aos poucos, mas que você está preso aqui, com raízes profundas demais. Suas raízes são a covardia, a falta de coragem de arriscar algo novo pela primeira vez. Não há faculdade ou trabalho que justifique esse definhamento interior pelo qual está passando. Isso é pura e simples covardia.
- Por que você fala com tanta arrogância, com tanta raiva?
- Porque eu sou o único que fala a verdade para você. Todos aí com esse papinho que você tem potencial, que tem que explorar isso. Pois eu vejo plenamente a mediocridade que você embala numa bonita ornamentação, mas que não engana quem consegue ver um pouquinho mais profundamente. Lembra-se da professora, que disse que você era um pavão? Ah, ela só queria explicar a metáfora, não é mesmo? Mas você sabe que não. Acho que mais alguém notou que você é um exibicionista dessa mediocridade tão sua, não é mesmo? E você sabe que aquilo te machucou, sabe que seus olhos encheram-se de água e você não conseguiu olhar mais nos olhos dela durante toda a aula. A verdade dói, não é mesmo, meu querido?
- Você não está ajudando muito.
- Você não merece ajuda. Perceba como faz três semanas que está afundado nessa maldita cama – excetuando os momentos em que cumpre seus honrados compromissos com os números e as letras. As pessoas estão indo. Não estão suportando essa sua inclinação estúpida por misericórdia. Ninguém vai ter pena de você. Não há motivo para ter pena. Erga-se e mostre-se um ser humano digno das pessoas que lhe cercam.
- Eu sou um ser humano da solidão e você sabe disso. Como a Ágatha disse da primeira vez que me viu: “O Rapha é um lobo solitário.” Sempre fui sozinho, sempre me virei bem comigo mesmo. Foi estupidez me desacostumar com isso. “Não é sadio acostumar-se com a luz quando somos fadados a viver no breu”, foi o que li por aí. Mas meu peito está voltando a ficar tranquilo novamente.
- A escolha foi sua, sabia?
- Não houve escolha. A solidão é imposta, não escolhida.
- Não foram poucas as pessoas que tentaram te amar, te dar um pouco de carinho, estar com você, te sentir. Mas do alto de sua arrogância, você expurgou todas elas, como se fossem bactérias nocivas a sua apreciada saúde.
- ISSO NÃO É VERDADE!
- Não me vem de novo com esse papo de que você não sabe por que acontece, que é um sentimento involuntário. E nem vem colocar a culpa novamente no pobre praiano lá, dizendo que ele te tornou uma pessoa fria. Isso é tudo baboseira que não cola comigo.
- Então, você me vê como um ser humano dos menos honrados, não é mesmo?
- Te vejo apenas como ser humano, nem menos nem mais nada. Só consigo te ver cristalinamente e tento te alertar pras armadilhas que estás armando para si próprio. Erga-se, rapaz. Já passou da hora.

Ele continua trancado no quarto. No escuro. Sozinho.

domingo, 15 de agosto de 2010

o marujo e o vaga-lume.


O barquinho cortava o negrume profundo com agilidade e astúcia. Não havia nada senão o escuro, um manto infinito que se estendia imponente diante de tudo que existia; não havia som senão a canção de ninar sussurrante do preguiçoso mar.

O marujo cochilava no fundo do barquinho, solitário, decidido. A escuridão era a única verdade que conhecia, o mar o único companheiro que já tivera. Seu coração era acostumado com a frieza da noite eterna e não lhe causava dor nunca ter visto nada com seus olhos cor-de-mistério.

Foi quando abriu os olhos e seu pequeno barquinho de madeira estava mergulhado em límpida fluorescência. O marujo soltou um urro assustado e tentou defender os olhos da luminosidade com o antebraço. Mas quando sua visão embaçada acostumou-se com a claridade, o marujo tomou ciência de tudo à sua volta. Banhado da luz esverdeada, curvou-se para fora do barco e viu seu rosto barbudo refletido na água negra, admirando-se com a plenitude de quem era.

O marujo não conteve a alegria que transbordava de seu peito. Dançou no pequenino convés do barco, à luz do vaga-lume, por horas e horas a fio. Considerou, no fundo do seu ser, o pequenino inseto como seu melhor amigo, a melhor coisa que já havia ocorrido na sua escura e taciturna existência pelo mar sem fim.

Mas os pés cansados, de súbito, pararam de se mover. A dança exuberante do marujo cessou abruptamente quando o pequenino ponto de luz moveu-se egoistamente em direção ao céu. Seus olhos marejados acompanharam a fluorescência esvanecer na única verdade que ele já conhecera: a noite.
De volta ao sufocante bréu, o marujo ensandeceu-se. Chorou copiosamente por horas, deitado na madeira fria do convés, sentindo o beijo misericordioso de uma brisa calma, que levava seu barco cada vez mais para dentro do oceano. Não é sadio acostumar-se com a luz quando somos fadados a viver no bréu, agora ele sabia. Decidiu que nunca mais seria capaz de viver no escuro e, numa medida desesperada, jogou-se no mar.

Ficou submerso por tempo suficiente para perder a consciência. Enquanto seu corpo forte enchia-se de água salgada, sua mente despertava para uma realidade iluminada, leitosa, límpida como uma manhã primaveril.

O marujo não havia mergulhado no mar. Havia mergulhado em si mesmo.

Retornou ao barco com dificuldade e, ao jogar-se no convés, contemplou a luz de um farol rasgando a noite, a quilômetros de distância. Inspirou uma grande quantidade de ar, revigorando seu corpo, abriu um tímido sorriso e soltou as velas do barquinho à ventura.

sábado, 31 de julho de 2010

à procura da catarse perfeita.

Não importa quantas pessoas você conheça, qual porcentagem você considere realmente como amigos e quantos são meros colegas e/ou conhecidos; não importa o quanto você se iluda com o frio contato virtual, quantas pessoas você siga no twitter ou adicione no orkut e no facebook: chegará um dia que você estará sozinho no negrume do seu quarto, sentindo a solidão expremer seus pulmões com volúpia, até o oxigênio tornar-se uma raridade mais valiosa que diamantes. Não Camelo, você está equivocado: não há nada de doce de solidão.

Nick Drake foi meu primeiro companheiro nessa noite solitária. No quarto escuro, vazio, sua voz reverberava pelos cantos, como se ele estivesse realmente presente, cantando aos meus ouvidos, dedilhando um violão velho e desafinado. Dizem que "Pink Moon" é uma obra complexa e, no alto de minha ignorância musical, nunca compreendi muito bem isso. Sabia que tinha sido gravado à meia-noite de uma noite de lua cheia, num estúdio vazio onde Drake, sozinho, com seu violão, deixou marcado para sempre seu último e derradeiro álbum. Mas creio que ontem, pela primeira vez, eu senti "Pink Moon". E foi uma experiência angustiante, como se cada acorde penetrasse na minha pele, comprimindo meu coração, bombeando-o desritmadamente. Se cheguei a compreender a grandeza dessa obra eu ainda não sei, mas sentimentos novos foram causados pela magnitude da genialidade de Drake.

Logo após, um velho conhecido tomou seu posto no banquinho, com suas roupas esfarrapadas e sua expressão taciturna. A meu pedido, Elliott tocou o "New Moon" na íntegra
, meu álbum favorito do cantor. Cantarolei baixinho junto com "Going Nowhere", aplaudi a urgência de suas interpretações em "High Times" e "Riot Coming" e me emocionei com a sensibildade de "New Disaster". Elliott parecia ser alguém que compreendia os sentimentos que a solidão causa e colocova todo esse peso em suas canções, em seus acordes e, principalmente, em sua voz. Hoje em dia, na minha opinião (o que não vale de nada, rs.), o Damien Rice é alguém que herdou essa habilidade com perfeição. Mas deixarei pra falar do meu amor pelo Rice em outra ocasião mais apropriada.

E então, quando minhas retinas também sentiram necessidade de serem entretidas, foi hora de escolher uma película para ser assistida. Pensei na
solidão pungente do robozinho Wall-E, no otimismo colorido de Amélie, no amor conturbado de Jack & Ennis... mas quem acabou desempenhando o papel de companhia ideal para essa noite foi uma cópia pirata sem-vergonha de Once (na versão brasuca, "Apenas uma Vez").

Once é um dos meus filmes favoritos, embora muita gente possa achá-lo indgno de preencher tal posto, dado a trama simples, o roteiro que beira o improviso, o orçamento mínimo, as câmeras tremidas, as atuações amadoras... Mas tudo remonta à premiação do Oscar de 2008, quando me deparei pela primeira vez com "Falling Slowly". Na verdade, eu tenho um hábito estranho de assistir aos Academy Awards, porque eu nunca assisto aos filmes antes, nunca tenho para o que torcer ou como julgar se o prêmio foi justo. Mas quando vi Glen Hansard e Markéta Irglová juntos no palco, eu senti tanta sinceridade naquela apresentação, tanta sensibildade nos acordes e no dueto, que comecei a torcer como se fosse presidente do fã-clube dos dois. Achava improvável a vitória, já que havia 3 canções de um filme da Disney na disputa, mas, felizmente, a Academia aquele ano me surpreendeu. E quando eles foram buscar o prêmio, confesso que trouxeram lágrimas aos meus olhos. Não sei se eles merecem algum mérito por isso, porque eu choro até com propaganda de margarina (rs.), mas foi um dos anos em quem mais valeu a pena assistir à premiação.



Eu só viria a assistir ao filme em dvd, pois já sabia que ele nunca entraria em circuito em Nova Friburgo [desce uma rodada de blockbusters pra galera!]. E o encantamento acabou de completar-se ao me deparar com um filme que superou todas as minhas expectativas. Tudo em Once é muito orgânico, muito verdadeiro, sincero. Não há os floreios de um musical hollywoodiano ou pomposas coreografias com toda a cidade dançando junto (embora, eu deva confessar, que Mary Poppins é um clásssico na minha vida e eu adoro um musical à la "Cantando na Chuva"). A música é embutida no filme de forma natural, é parte intrínseca das emoções, dos sentimentos e das expressões dos personagens. E como as canções são belas! Dos berros desesperados de Glen em
"Say it to me now" e em "When your mind's made up" - berros que ainda me arrepiam e trazem lágrimas aos meus olhos, mesmo depois da 5º vez que assito ao filme -, às divertidas "Broken Hearted Hoover Fixer Sucker Guy" e "Fallen From The Sky", passando pelas interpretações emocionadas de Markéta em "The Hill" e "If you want me", cada canção do filme é uma preciosidade, sensível sem ser piegas, emotiva sem cair na mesmice, no simplório. Glen e Mar falam de uma forma muito verdadeira de sentimentos pelos quais todos nós já passamos e suas intepretações são sinceras, como se as cenas fossem um ensaio privado no porão de suas casas.

A verossimilhança do filme é tão grande que, em certos momentos, ganha um aspecto de documentário e você precisa lembrar-se que aquilo é ficção. Glen e Mar são tão bom juntos que Dublin fica em segundo plano, apenas uma coadjuvante (das mais belas, é bem verdade): só há olhos para os dois personagens, sem nomes, o que nos ajuda ainda mais na aproximação com a história e com os fatos - é como se pudesse ser você ali, como se aquela história pudesse ser a da sua vida. Perdidos no turbilhão de seus sentimentos, presos ainda a suas respetivas relações passadas, o filme se desenrola não como uma história de amor, como a maioria acaba pensando, mas com foco na amizade que os dois cultivam, na ajuda mútua, no abalo que ela dá na vida dele, fazendo-o acordar de uma estagnação que obstruía todo seu talento e sua vontade de viver.



Todos esses atributos de Once, ontem à noite, foram primordiais para que eu fosse dormir mais tranquilo. As lágrimas derramadas em cada canção (dignas de causar uma desidratação) levavam consigo uma angústia que até agora não consegui compreender de onde veio ou porque veio. Mas, às vezes, não importa que haja 6 bilhões de pessoas do mundo: você está sozinho. Completamente sozinho. E tem que, de alguma forma, lidar com isso.

Pra completar, Glen e Markéta e seu fantástico The Swell Season estarão no Brasil nos dias 27 e 28 de Agosto para faze shows. Minha vontade, nesse momento, é trancar a faculdade e usar a grana para poder estar lá, abraçar esses dois e agradecer pela companhia na noite passada. Mas não estou podendo ser extremista a esse ponto ainda. Portanto, se você estará no HSBC Brasil ou no Viva Rio nos dias dos shows, mande lembranças minhas. E diga que sou muito grato. De coração.