"Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes amanhã."
- Milton e Lô Borges, Clube da Esquina
Olhando para trás agora, daqui, tão distante e, ao mesmo tempo, tão perto, parece que esses últimos quatro anos foram uma longa e surpreendente viagem. Sinto como se naquele dia de março de 2009, confusos e tímidos, sem saber que rumo tomar - seja pelos corredores do prédio ou em nossas próprias vidas e carreiras - preparávamos, sem ter qualquer ciência, para a mais incrível jornada de nossas vidas, com a coragem de seguir em frente mesmo sem saber o itinerário. Naquele dia de março, acreditem, comprávamos as passagens para a surpreendente viagem das Letras.
Não foi uma viagem fácil - nós, aqui neste palco, com um sentimento de sobrevivência aflorado, sabemos muito bem disso. Vimos muitos dos nossos companheiros descer do ônibus e se despedir, porque aquela estrada não era para eles. Acenávamos, às vezes com lágrimas nos olhos, mas sabíamos que a viagem precisava continuar. Para outros amigos, cuja viagem parecia apropriada, mas, por algum motivo, sentiam urgência de desistir dela, dissuadimo-los com palavras de encorajamento - talvez porque não queríamos mais dizer adeus a ninguém.
E que recompensa tiveram aqueles bravos o suficiente para se aventurar até o fim: navegamos nos mares da língua portuguesa com a capitã Lúcia Ramineli, que acomodou em seu barquinho todos esses marujos inexperientes e nos levou a salvo por entre os maremotos de análise sintática; caminhamos pela Grécia Antiga com Simone Salomão, aprendemos tanta coisa sobre Literatura que nossas malas ficaram abarrotadas de história e conhecimento; Derrapamos nas curvas acentuadas da Línguística de Saussure e Chomsky, mas tivemos Lívia Mastrângelo para tomar a direção do ônibus e nos guiar sem grandes acidentes; e, quando foi nossa vez de recontar todas as histórias maravilhosas que começávamos a compilar em nossa memória (afinal, tínhamos muita coisa para relatar dessa história para Daniele, não é mesmo?), o que faríamos sem Marília para apurar nossa coesão e coerência?
O que quero dizer é que, se chegamos um tanto desnorteados para essa viagem, só podemos agradecer todos estes "guias turísticos" que, por conhecer tão bem os caminhos da Língua Portugesa, puderam nos levar por eles com tanto amor e devoção - e, principalmente, ensinar-nos a admitir este mesmo amor que agora também habita na gente. A viagem não seria a mesma sem todos vocês, professores queridos e todos os funcionários da faculdade.
Constantemente, viajávamos em grupos menores, por áreas que não interessavam a todos. Era quando nós, o Povo de Inglês (como costumávamos nos chamar com um falso tom de sarcasmo, pura implicância) embarcávamos no trem da Literatura Inglesa com o maquinista Felipe, ou atravessávamos as pontes gramaticais da Língua Inglesa com Valéria; o Povo do Espanhol visitava a língua-prima do Português com Fernanda e Rosa, através das fronteiras e sotaques, enquanto o Povo de Literatura acampava nas histórias de nosso país e de Portugal com Cristina e Ana Maria.
Tais viagens, entretanto, não serviam para sedimentar o grupo, absolutamente. Era o que nos unia, na verdade, a ponto de, em momento qualquer que ninguém saberá ao certo, deixamos de ser um grupo de desconhecidos dentro de uma sala de aula para nos tornarmos companheiros, amigos, praticamente uma família em vários casos. Choramos juntos as lágrimas que eram de apenas um, rimos de todos e com todos, estudamos a dúvida de um como se fosse de todos. Esse talvez seja o mérito dessa viagem, o que nos fez ouvir tantas vezes elogios dos professores: essa preocupação com o outro, esse amor que adquirimos pelo grupo que somos e o orgulho de ser e estar nele. Do círculo acadêmico, que, tantas vezes, é arenoso e infrutífero, competitivo e egocêntrico, fizemos uma floresta de afeição e respeito e, do conhecimento que cada um leva consigo daqui, sempre haverá uma partezinha que é o resultado dessa forma linda que arranjamos de aprender.
A viagem acaba aqui. O ônibus estaciona, e nós, com lágrimas nos olhos por uma última vez, sabemos que os rumos são distintos e que cada um tem a própria estrada para viajar agora. Sempre haverá, entretanto, essa estrada de letras à nossa frente, sumindo no horizonte e guardando novas aventuras. "Qualquer dia a gente se vê", como diz o Milton, em um ponto dessa estrada surpreendente que é a vida.
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