domingo, 3 de abril de 2011

pequena dose de ficção.

Desde muito pequeno, existe dentro de mim um fracassado e medíocre literato aprisionado. Lembro-me de quando muito pequeno, ainda de chupeta na boca, desenhava reis e rainhas numa folha e narrava histórias para que minhas irmãs escrevessem para mim, criando pequenas fábulas que, infelizmente, perderam-se no tempo. Depois de alfabetizado, empenhei-me em escrever uma coleção de contos com temáticas variadas e os compartilhava com meus amigos de classe, que divertiam-se com as histórias de detetives, aventuras de cidades perdidas e contos de terror de zumbis e monstros.

Com um pouco mais de esforço, numa época de isolamento, os contos cresceram e tornaram-se romances e até mesmo uma novela. Escrevia para escapar de uma realidade que não queria enfrentar, escrevia por poder fazer daquelas páginas de papel meu próprio mundo.

Eis então que, depois de alguns anos, encontro-me novamente escrevendo ficção. Afinal, nos últimos três anos, excetuando as redações para a faculdade, minha produção textual baseou-se nos posts deste blog, que dizem respeito à minha vida e meus anseios.

O que seguirá pelas próximas semanas aqui no Sob o Boné é um despretensioso conto sobre duas pessoas que se amam e precisam descobrir por quê. Uma relação corrosiva, dolorosa, embalada por canções íntimas e passionais.

Aos que resolverem vir junto nesta experiência, peço um pouco de compreensão com os possíveis erros ortográficos, gramaticais, com a obviedade de certos pontos da trama e com o meu vocabulário escasso. Ficaria muito feliz com respostas, comentários, críticas, portanto, fiquem à vontade pra participar de tudo isso.

É isso. Boa leitura.

r.

segunda-feira, 21 de março de 2011

quando só resta dizer tchau.

“Volto quem sabe um dia
Porque os trilhos já tiraram do chão
Olho as tardes, vivo a vida
Nada é em vão.”

(Vanessa da Mata)




Sob Medida, Rua Portugal. É a milésima vez que nos sentamos ali pra tomar uma cerveja e conversar. Mas o clima dessa vez é diferente. Não há calma, risadas, olhares para as mesas ao lado, comentários, conversas filosóficas sobre nossas vidas patéticas e, ao mesmo tempo, tão únicas. Há olhos oceânicos e decisões que não podem ser adiadas. Há despedidas e, principalmente, há a sensação de pecar por amar demais.

Ironicamente, a vida te trouxe até a mim também numa mesa de bar, há remotos dois anos atrás. Estava, àquela época, aprendendo a lidar com a decisão de enfrentar o que eu era. Havia contado para algumas poucas pessoas e a liberdade que aflorava lentamente em mim ainda era contida, tímida, envergonhada. Faltava-me coragem, essa é a verdade. Ainda não era claro pra mim de que tal condição não afetava o que eu já fora e o que eu viria a ser.

E eis que tu entras em minha vida, chutando a porta da frente e colorindo as paredes acinzentadas com suas cores carnavalescas e alegres. Aceitou involuntariamente a missão de ser como um mestre pra mim, de me ensinar as peculiaridades desse novo caminho que eu viria a traçar. Foi paciente — na maioria das vezes—, foi sincero, foi cúmplice. Dividiu comigo os recônditos mais singulares da sua vida, os mais assustadores, os mais cheios de genuíno regozijo. Permitiu que eu também expusesse meus temores, minhas lembranças e todas as minhas vontades e desejos. Foram inúmeras conversas nas escadas do Jambalaia regadas a café, foram incontáveis experiências diárias compartilhadas com macarronas improvisadas. Foi solidário a ponto de deixar sua própria mãe também me chamar de filho, dividiu comigo seus amigos e aceitou todos os meus também. Adaptou-se como pôde ao meu gênio instável, enquanto também precisei aprender a conviver com sua personalidade forte.

Penso, depois de tudo isso, se as pessoas cruzam os caminhos uma das outras por puro acaso ou se cada encontro de trajetórias tem um intuito, um projeto. Porque sei agora que se não tivesse tido você, ainda seria um moleque inseguro, sem coragem de enfrentar novas experiências, sem a capacidade de acreditar que algo intrínseco a meu ser não precisa ser aceito por ninguém. Isso é o que sou. E foi você que me ensinou a aceitar isso.

Num mundo onde amor é raridade, espero que continuemos a pecar por amar demais. Isso prova que estamos vivos, que somos de verdade, que ainda somos parte de uma pequena parcela da raça humana apta a amar. Que cause despedidas, se esse for o preço a ser pago. Consequência que não pode retirar o valor de tudo que foi vivido antes.


Amo você, meu amigo, de coração.
Vamos devorar o mundo. Merecemos isso.

r.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

enquanto saram as cicatrizes.

É como andar sobre um corpo moribundo, ferido, machucado em sua carne frágil. A cada esquina empoeirada, em cada bairro brutalmente afetado, não há sequer um pedacinho de Nova Friburgo que não sangre ininterruptamente depois dos acontecimentos fatídicos de 12 de janeiro. Não há fuga. Não há oásis em meio ao deserto trágico das vidas engolidas pela lama, pelos escombros e pela força da água. E, embora as feridas continuem ali, abertas, à mostra nos barrancos, sangrando barrentas nas montanhas e pedras que circundam a cidade, as pessoas tentam como podem reaver uma atmosfera de naturalidade que não vai existir de forma genuína durante muito tempo.



Já fazia algum tempo que eu estava de mal com Friburgo. Destas brigas de casal que está junto há muito tempo e ainda se ama, mas a relação não dá mais certo. Talvez tenha sido apenas um jeito de colocar a culpa de tudo que acontecia (ou melhor, que não acontecia) na minha vida em algo além do meu poder. Um bode expiatório, uma desculpa pela falta de força de vontade de lutar pela minha felicidade. Não sei até que ponto eu estava certo de culpar a falta de oportunidades de uma cidade pequena pelas minhas amarguras pessoais, mas lembro-me de falar milhares de vezes que Friburgo não podia ficar pior do que era. Provações superiores mostraram que eu estava completamente equivocado.

Na semana que eu voltei de Niterói (veja os acontecimentos que antecedem essa volta aqui), faltou-me chão por muitos e muitos dias. Senti-me incapaz de suportar a realidade de viver numa cidade destruída, fui brevemente tomado por um sentimento depressivo que ziguezagueava entre a tristeza e a indiferença. Fui egoísta, pensei exclusivamente em mim e no quanto eu não queria presenciar nada daquilo. Mirabolei planos de fuga estapafúrdios, fui acometido de uma coragem selvagem que me impulsionou a finalmente realizar um sonho de anos: ir embora de Friburgo. Pensei em recomeçar a vida em Niterói, cidade pela qual acabei me apaixonando na minha curta estada — e onde agora tenho planos concretos de morar em breve. Pensei em largar tudo e aceitar o convite de fugir para o sul com certa pessoa. Mas quando a cabeça retomou seu pensamento equilibrado e coerente, a decisão de continuar em Friburgo foi tomada. E então veio a fase de acostumar-se com a ideia de que seriam mais dois anos lutando contra o sentimento de aprisionamento que esta cidade me causa.

Um dos motivos pelo qual não quero ir embora agora é a Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia, instituição onde nessa semana comecei o 5º período de Letras. Aham, eu já sei que cursos de Letras tem em qualquer cidade e que eu poderia pedir transferência para eles, mas a paixão que tenho por aquela instituição, seu ambiente e seus professores vai além de um curso, de uma licenciatura. Sei que não me sentiria tão bem em qualquer outro lugar e só quem estuda lá sabe do que estou falando.

Também há todas as pessoas que amo reunidas aqui, amizades que vêm desde a infância, toda uma família, conhecidos, gente que já me acostumei a ver sempre e a conviver. Tais pessoas já têm ciência da minha ânsia por algo maior que uma cidade no alto da montanha. Já sabem que tenho planos maiores e que me sinto massacrado aqui pela falta de oportunidades que acredito — embora seja desmentido de vez em quando por pessoas de fora — estarem por aí, me aguardando. A coragem pra deixar tudo pra trás já existe e não haverá dor em lutar por um sonho. Haverá saudade, nostalgia, sentimentos que serão curados com visitas constantes, sem dúvida alguma.

Dizem que a reconstrução de Nova Friburgo durará por volta de 2 anos. Coincidentemente, 2 anos é o tempo que me falta para terminar os estudos. Estarei aqui, vendo a cidade cicatrizar aos poucos e voltar a ser o que sempre foi. Um alívio: poderei ir embora deixando pra trás o lugar que, como uma mãe, foi parte íntima e importante do processo de amadurecimento do ser humano que agora eu sou.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

fragmentos de um janeiro intenso.

Há o mar. Diante de todas as reviravoltas da vida e dos acontecimentos imprevisíveis dos últimos dias, paro e miro a imensidão salgada com meus olhos cansados. Por alguns instantes, não sei onde estou, não sei mais quem sou. Parece fazer muito tempo que a água transformou tudo que eu já conheci em lama e lembranças, mas sequer uma semana passou ainda. Tudo é recente, tudo ainda dói de forma tênue, quase imperceptível. Miro as águas de Niterói, mas minha mente lembra-se das águas que lavaram Friburgo e minhas raízes.
I
O despertador não havia tocado ainda. Por que minha mãe estava berrando à janela? Minha mente confusa pelo súbito despertar não assimila seus gritos. Penso em como seria bom não ter que ir para o trabalho naquela manhã, um desejo embaçado pelos lençóis do sono e consumado pela entrada repentina da minha irmã e meus sobrinhos a casa, relatando que “acabou tudo”.
Lembro-me que chovia quando fui dormir à noite anterior, chuva forte, torrencial, água violenta que não soube medir sua força. Não sabia a proporção da tragédia até ver barro, lama e sujeira por todas as esquinas do bairro. Não podia imaginar que aquela era diferente das outras enchentes que já haviam ocorrido até ver a rua em que brinquei, cresci e aprendi a ser quem sou hoje tornar-se uma cachoeira apocalíptica que levou carros, árvores e alagou a casa de um amigo de infância. Não poderia considerar que todo o país, naquele momento, estava conhecendo a minha simples e pacata cidade, meu refúgio no alto da montanha, porque estávamos completamente ilhados por barreiras gigantescas e não tínhamos telefone, celular, internet ou energia elétrica.
Afundei meus olhos em livros. Mantive minha mente afastada da realidade que me cercava. E agradeci quando o breu invadiu a casa e apaguei a lanterna para lançar-me novamente no mundo seguro dos sonhos.

II
Vencemos uma barreira enorme já trilhada pelos pés dos curiosos e necessitados que cruzaram-na antes de nós. Atolamos os pés na lama, no sentido mais literal e intenso possível. No trilho enlameado, a sensação era de patinar no barro escorregadio e fomos avisados que o corrimão e a parede estavam dando choque. Pareceria uma aventura cinematográfica se não fosse a vida real. Alcançamos a avenida e deparamo-nos com o caos — de uma forma que ia além da nossa imaginação ingênua de 48 horas ilhados no próprio bairro: lama, sirenes, ambulâncias, pessoas, tráfego, lama, gritos, vozes, helicópteros, polícia, mais lama, medo. O cérebro perdia a percepção da realidade. Não podia aquele ser o caminho que eu já havia feito bilhares de vezes, agora colorido com pinceladas de tragédia e tristeza.
Olhamos por alguns instantes os escombros do prédio que caíra, vimos a lama que tomou conta da Praça do Suspiro e, como algo já me dizia que ia acontecer, achei o Léo na rua e subimos para o Jambalaia. Um pequeno refúgio longe do terror que cobria as ruas de Friburgo.

III
Avisto um movimento estranho do basculante da área de serviço do Jambalaia. Pessoas correndo, ambulâncias, buzinas, carros e terror tentando alcançar o ponto mais alto do bairro. Vou ao quarto, falo com a serenidade que me é permitido: Tenta não entrar em pânico, Léo, mas acho que está acontecendo alguma coisa lá embaixo.
Descemos os 147 degraus do Jambalaia e descobrimos que uma represa rompeu e inundará todo o centro da cidade — eis o motivo de as pessoas estarem alcançando os pontos mais altos dos bairros. Há muito choro, pânico, terror psicológico, gritos, nervosismo e, logo em seguida, tudo é desmentido. Pasmem, sequer existe uma represa em Friburgo.
É a gota d’água. Decidimos nos refugiar por alguns dias em Niterói.

IV
“Já pode comprar a camiseta: Friburgo 2011 – Eu sobrevivi?” foi meu primeiro tweet depois de 48h desaparecido e de incontáveis replies preocupados e assustados. Havia gente tentando contato com a defesa civil de Friburgo, havia corrente de notícias e novidades, havia amigos relatando do choro, da preocupação, havia gente querendo dar tapas na minha cara... Havia, acima de tudo, sentimentos sinceros que eu não me esquecerei nunca.

V
Domingo à tarde, volta da praia. Eu estava estranhamente quieto. Natália comenta que estou feito mosca de padaria, só observando. Sorrio mas não consigo interagir com o pessoal. Não há tristeza propriamente dita, mas é uma reflexão quase que involuntária.
Telefone.
“Seu pai teve um infarto.”
Silêncio. Voz embargada. Passo o telefone pra Mari.
Choro. Choro incessante, lágrimas infinitas. Rivotril. Choro. 13h de sono.

VI
A serenidade da manhã e a descoberta de que já houve a transferência e ele encontra-se bem e consciente no Hospital Geral de Bonsucesso. Vamos visitá-lo e, enquanto chove o mundo no Rio de Janeiro, beijo-lhe a testa e embaço meus olhos de lágrimas. Fotografo-o com o celular e o Facebook contabiliza 14 (Y). Está tudo bem agora.
VII
Simplesmente para salientar: Itaipu/Bonsucesso sozinho é pra mim uma vitória pessoal contra meu medo de metrópoles.

VIII
Passagem à mão. Despedidas. Faltam palavras pra agradecer tudo que Tia Ana e Mari fizeram por mim na última semana. Sinto-me adotado, da família. Nunca esquecerei todo o afeto, paciência e solidariedade das Grillo Girls.
A serra, como sempre, perturba meu estômago. Há muitas estrelas no céu, mas não há ninguém nas ruas. É uma cidade-fantasma, um lugar esquecido com uma atmosfera anacrônica. Não é bom estar de volta... Não é.

IX
O calor e a poeira. Volta ao trabalho e um sentimento de não saber mais se pertenço a este lugar. É difícil respirar e não sei se o que me sufoca é a poeira ou a atenuada falta de perspectiva de uma cidade destruída.
*
Planos. Novos horizontes. E se fosse possível deixar tudo isso pra trás e recomeçar em outro lugar, uma nova vida, uma nova temporada, talvez com tudo aquilo que eu sempre sonhei e nunca consegui alcançar em Friburgo?
Penso no destino, embora não saiba se acredito nele ou não. Penso se as pessoas cruzam a vida das outras com um motivo predestinado. Penso se, quando conheci a Mari, há 3 anos atrás, já estava escrito em linhas invisíveis que ela seria de fundamental importância para eu aguentar toda essa barra de um janeiro doloroso e trágico.
É fim de temporada. Fim trágico e obscuro, mas que almeja uma nova temporada feliz e promissora.
Aguarde cenas dos próximos capítulos.

domingo, 26 de dezembro de 2010

1988.

Entro pela porta dos fundos. Sei que não sou bem-vindo e não gosto da prepotência que exigiria uma entrada pela porta da frente. Meus passos, como de costume, são sorrateiros e calmos, de uma serenidade adquirida com o passar de muitos anos. Alcanço a cozinha e encosto-me sobriamente no batente da porta. Trata-se de um simplório cômodo fracamente iluminado pela luz do fim do do dia. Sobre o fogão escarlate, uma panela inunda a cozinha num vapor aromático, onde ferve uma sopa de legumes e macarrão. As vidraças da janela-basculante embaçam-se na quentura da cozinha e a mãe repousa a colher com que mexia a refeição sobre a pia, virando-se pro pequeno garotinho aos seus pés. "A sopa já está quase pronta", ela diz num tom amável, ignorando minha presença. "Vou ali no quarto buscar um pano para tratar-te. Cuidado com o fogão que a sopa está fervendo."

A mãe atravessa o pequeno corredor e entra no quarto. Olho para o menino. Não gosto quando são crianças. É deveras doloroso para mim. Deve ter por volta de três anos, um pedacinho de vida que não ultrapassa os noventa centímetros, dono de dois olhinhos castanhos expressivos e curiosos. Me aproximo lentamente lançando-lhe o melhor sorriso que possuo, embora não exista qualquer vontade de rir em mim. Abaixo-me e deixo meus olhos azulados na altura dos dele. Minha voz é suave, na medida exata para não assustá-lo: "Hey rapaz. Você parece meio cansadinho. Tá cansado, é?" O molequinho meneia a cabeça, coçando o olho com a ponta do indicador. Num movimento rápido, alcanço a alça de ferro da tampa do forno. Temo que o barulho alerte sua mãe, mas ela não aparece. Sob o fogão, a sopa borbulha violentamente. "Pronto, sente-se aqui pra descansar um pouco", digo a ele, apontando para a tampa do forno aberta. Obediente, o menino se senta, absorto na ingenuidade inerente às crianças. Ajo rapidamente. Com frieza. Ponho-me de pé e meus dedos agarram o fogão, virando-o sobre o menino.

O protocolo é claro: não devo permanecer no local depois que acontece. Mas o abrupto estrondo do fogão chocando-se contra o chão, enquanto o líquido fervente escorria sobre os cabelos encaracolados do menino, trouxe sua mãe rapidamente à cozinha. Pude ouvir seu coração: era o som de cem tambores rufando em uníssono. Vi o pavor em seus olhos quando suas mãos trêmulas puxaram o garoto encharcado do chão e o seguraram contra seu peito. O garoto sufocava numa mistura mortal de dor e susto e aquele panorama me prendia ali, embora soubesse que já devia ter ido embora. Não havia mais ninguém em casa e, enquanto lágrimas desesperadas surgiam em seus olhos, a mãe correu em direção à rua, apertando o filho contra o peito como se, assim, retroagisse o tempo e evitasse o que acabara de acontecer.

É a minha maior fraqueza: a compaixão que habita meu coração e toma conta das minha atitudes de vez em quando. Sei que não posso ser submetido a ela. Sei que preciso ser forte nesses momentos e cumprir o papel que me é designado. Mas, às vezes, simplesmente não consigo. Segui a mãe e o garotinho de perto e os alcancei quando ela conseguiu uma carona para o hospital com um morador do bairro. Sentei-me ao lado deles, no banco de trás, o carro tomando a rua com velocidade e desespero. O menino começa a ganhar uma cor púrpura, a intumescência tomando conta de sua face tão frágil e ingênua. Segurei sua mãozinha banhada da sopa fervente, a pele em carne viva, e disse-lhe ao ouvido, calmamente: "Hey, Rapha. Fica calmo, tá bom? Vai ficar tudo bem."