sábado, 1 de outubro de 2011

vidas que se cruzam.



Histórias de amor não seguem scripts. Não há obviedade que possa ser encontrada nas formas que os corações tendem a se comportar, ou racionalidade nas linhas invisíveis que juntam, pouco a pouco, duas vidas que precisam se chocar e se tornar apenas uma. O amor simplesmente acontece, da forma que convier a ele mesmo, sem nos pedir permissão, sem se preocupar em nos surpreender de infinitas maneiras. Abro espaço neste blog, neste dia muito, muito especial, para contar uma pequena história sobre essas linhas invisíveis, paralelas num primeiro momento, até se tornarem o mais belo laço.

Eu sequer sei mais há quanto tempo o Gustavo está em minha vida: a contagem dos anos se perdeu entre as brincadeiras de ruas, os churrascos na casa dele, os anos de trabalho juntos, as conversas sempre carregadas de risadas, outras umedecidas de lágrimas. Mais do que uma amizade, fomos, gradualmente, criando laços de irmãos, que se alastraram por toda a família dele, que me acolheu como se realmente compartilhasse em minhas veias o sangue que corre nas dele.

Já a Mari caiu de pára-quedas em meu cotidiano num momento um tanto confuso e conturbado: estava em um momento de transição da minha própria vida quando nos conhecemos em vidas que apenas fingíamos que eram nossas. Formou-se um pequeno imbróglio amoroso que, à época, não podia livrá-la dele — por falta de coragem ou de maturidade ou coisa que o valha. Mas, neste ínterim desconexo, a vida dela cruzou com a do Gu pela primeira vez, talvez não da forma apropriada, mas, como disse, o amor tem seus próprios métodos de agir.

Só voltaríamos a nos reencontrar alguns anos depois, quando as entrelinhas puderam ser reveladas apropriadamente e, com lágrimas nos olhos, pelo frio contato do mensageiro, pedi desculpas a Mari por tudo que havia acontecido. Reatamos, lentamente, os laços de nossa amizade, agora sim da forma que sempre deveria ter sido. E, vindo passar o dia do meu aniversário do ano passado aqui, ela teve oportunidade de resolver outras pendências que também se encontravam em hiato.

Hoje, depois de quase um ano, todos esses encontros e desencontros parecem ínfimos com a chegada do Bernardo, nossa pequena espera ansiosa dos últimos nove meses. E vocês não sabem como me sinto feliz de poder ser padrinho dessa pequena preciosidade e o quanto de amor tenho guardado em mim para dividir com ele, para estar sempre presente em sua vida de todas as formas possíveis.

Mas, mais que tudo, esse pequeno texto é pra demonstrar o quanto me deixa orgulhoso ter sido a linha que fez a vida de vocês dois se cruzarem. Isso enche meu coração de felicidade, de verdade. Obrigado por me deixarem fazer parte dessa família. A jornada está só começando, e eu estarei aqui, sempre, com vocês.

Bem vindo ao mundo, Bernardo. Conte com seu dindo pro que for. Sempre.


domingo, 11 de setembro de 2011

batidas de coração.




Sentaram-se no extremo do píer, no chão amadeirado de tábuas toscas e firmes. Ela cruzou as pernas desconfortavelmente e, após ajeitar os cabelos lisos atrás das orelhas, puxou as mangas do moletom o suficiente para esconder as mãozinhas delicadas. Ele tentou acender um cigarro, lutando bravamente contra o ventinho manso que provinha preguiçosamente do mar; nem sabia ao certo se tinha vontade de fumar àquela hora da manhã, mas necessitava de algo com que poderia fingir distração. O céu era de um cinza imponente, cimentado, encontrando-se com o mar revoltoso que quebrava nas colunas do píer e salpicavam gotinhas geladas em seus rostos inexpressivos.

Ela já sabia. Notara indistintamente, pelo telefone, no tom de voz eufemístico com o qual lhe questionara sobre a possibilidade de um encontro dali a algumas horas: tinha na voz aquela ternura de um pai preocupado, que alerta ao filho para tomar cuidado enquanto brinca no balanço do parquinho. Agora, defronte ao rapaz, próxima o suficiente pra sentir seu cheiro, os olhinhos esverdeados e questionadores analisavam com minúcia as suas tentativas fracassadas de acender o cigarro. Os lábios curvaram-se num doce sorriso, que tanto tinha a ver com a fragilidade acentuada da menina, embora ele não notasse aquele momento efêmero, empenhado ininterruptamente na missão desimportante de fazer o isqueiro funcionar.

Temia quebrá-la. Do pouco que se dispusera a conhecer o coração da menina, o mais nítido e verdadeiro que alcançara era a inegável fragilidade de suas emoções pungentes, de suas declarações sutis e sinceras, da transparência aquosa de seus olhos rasos. Havia dias que, em silêncio, para si mesmo, desejava que ela não fosse tão vulnerável, ou que não pudesse ler nos gestos involuntários de suas mãos ou na expressão serena de seus olhos o quanto ela estava entregue a ele.

Um pequeno lampejo do isqueiro chamuscou a ponta do cigarro e ele deu um trago sem vontade. Não possuía mais álibi, precisou deixar seus olhos se cruzarem, desesperadamente procurando uns pelos outros, embora por motivos distintos. Ele umedeceu os lábios ressecados, o cigarro queimando entre seus dedos, as palavras queimando em sua língua.

— Eu não sei bem por onde começar. Nada disso está sendo fácil para mim.

Subitamente, ela inclinou o corpo na direção dele, alocando o ouvido junto ao seu peito. Desconcertou-se por um instante, pego inesperadamente por aquele movimento abrupto, mas, com a mão livre, deixou os dedos acariciarem os cabelos dela.

— O que você está fazendo? — perguntou baixinho, apoiando o queixo delicadamente no rosto dela.

— Estou ouvindo seu coração — um murmúrio coloriu o sorriso que ainda mantinha no rosto.

— Você entende o que está acontecendo aqui, não é?

— Sim, entendo. E tenho, portanto, duas opções: posso guardar para sempre o monte de palavras genéricas que você preparou e treinou obstinadamente nos últimos dias para me proteger de uma verdade irrevogável; — Ela suspirou, os olhos acortinados por lágrimas, o ouvido atentamente grudado ao peito dele. — ou posso lembrar-me de ti pela batidas do seu coração, pela melodia que delas provêm e que nenhum outro peito no mundo será capaz de repetir. Nunca. O que você prefere?

Os olhos dele nublaram-se. Os braços envolveram-na fortemente e, enquanto a melodia de seus corações e das ondas chocando-se contra o píer misturavam-se, contemplaram o silêncio obtuso da despedida.


domingo, 3 de julho de 2011

a última caminhada.

"A doce tarde morre. E tão mansa
Ela esmorece
Tão lentamente no céu de prece,
Que assim parece, toda repouso,
Como um suspiro, de extinto gozo
De uma forma profunda, longa esperança
Que, enfim cumprida, morre, descansa..."

(Felicidade, por Manuel Bandeira)

Arrastou-se para fora da cama com dificuldade proveniente do peso dos anos sobre suas costas. Os pés, descalços e frágeis, encostaram-se no chão de tacos iluminado pelo sol invernoso que adentrava pela janela, esparramando-se sobre os livros empilhados desorganizadamente. Moveu-se lenta e calmamente até a cômoda, na qual suas roupas provisoriamente mantinham-se guardadas desde que voltara à cidade, e vestiu sua camisa branca de seda favorita, abotoando-a distraidamente enquanto um assovio pacífico e melodioso era produzido pelos lábios ressecados. Passou com dificuldade as pernas fracas e magricelas para dentro de uma poída calça cáqui e a prendeu com suspensórios xadrez. Sentou-se na beira da cama, tateou o chão com as pequeninas mãos até encontrar o par de sapatos marrons, calçando-os. Arrastou-se de volta à cômoda, agachou-se com dificuldade e abriu a última gaveta, tirando dali um boné. Prostrou-se em frente ao espelho e, embora não se preocupasse mais com os cabelos desgrenhados ou com as marcas deixadas pela vida, escondeu os cabelos prateados com o boné, afundando as mãos nos bolsos da calça e se olhando no espelho por alguns segundos.


Batidas à porta e um rosto sorridente surge, surpreendendo-se com o que vê.

— Onde pensas que vai, tio? — a moça pergunta, adentrando o pequeno cômodo.

— Caminhar — responde com a voz pigarreada, ajeitando com a ponta dos dedos a branca barba que encobre o rosto macérrimo. — Vislumbraste o belo dia que faz lá fora? Entrou pela janela e me convidou a andar. Não pude recusar.

— E com que saúde pretendes sair por aí a passear? — a sobrinha era toda preocupação. — Já tomaste seus remédios? Temos que verificar sua pressão e...

— Deixe o velho em paz, mulher — o marido adentra o quarto, nas mãos uma caneca de café forte, que entrega ao senhor. — Que mal pode fazer uma caminhada nesse solzinho?

— Quer que eu te acompanhe, tio?

— Bah, não sejas boba. Sempre andei sozinho, seria um ultraje passar a andar com dama de companhia depois de velho — as mãos enrugadas levaram a caneca à boca, adoçando-a com o único vício que alimentara durante a vida toda. Bebericou com prazer todo o café e depositou a caneca vazia sobre a cômoda. — Já vou indo.

— Tome cuidado, tio, pelo amor de Deus.

Um sorriso doce coloriu o canto dos lábios. Beijou a sobrinha carinhosamente, pegou a bengala e partiu.

A tarde dominical queimava brandamente em luz invernal, pálido ouro, tênue calor. Os doces raios de sol acalentaram sua pele corroída pela erosão do tempo e se fez nostalgia, cercando-o por todos os lados. Apoiado na bengala, refez os passos do jovem frágil e desorientado, que não soube sonhar, nem obter todo o regozijo que a vida pode prover. Pisando sobre as próprias pegadas — que tentou por tantas vezes mostrar que eram decididas e obstinadas, quando não passavam de passos incertos e sem rumo —, era novamente o menino de boné, cujos olhos doces escondiam os receios espinhosos que lhe perturbavam. Como se fosse a vida eterno rodamoinho, estava de volta a andar nas ruas que impediram-lhe de sonhar, entre as construções medíocres que obstruíam sua visão para uma vida ampla e completa, entre as pessoas que emolduravam tão bem sua mente simplória e superficial. Podia ter sido tão mais, ele agora sabia. Agora, curvado e doente, apodrecido pelo efeito inexorável do passar dos anos.

Nem tudo era rancor, todavia, em seu coração enferrujado. Sabia que sua forma de sentir o mundo provinha, substancialmente, da sensibilidade gerada por aquelas longínquas caminhadas nas tardes solitárias de domingo. Tinha ciência de que, se agora podia emocionar-se ao olhar a forma como tudo é luz numa tarde invernal, devia tudo à forma como sozinho aprendera a ver a beleza na sutileza das coisas. E tudo era paz naquela tarde, quando a brisa balançou os galhos dos algodoeiros e, feito neve, pequenos tufos de algodão flutuaram no ar tenro, contrastando com o céu mais anilado de todos; tudo era paz quando as mãos cansadas acariciaram o focinho de um matreiro vira-lata que se engraçou para o velho e encurvado menino de boné, que sorriu como se ainda tivesse os dentes tortos e o sorriso infantil e ingênuo; era paz que assolava o coração quando meneava a cabeça para saudar os jovens cheios de vida que passavam por ele, mania local de uma falsa intimidade que lhe irritava quando jovem, mas que agora notara o quanto sentira falta no tempo que passara fora. Tudo, tudo era paz, enfim.

Avistou o banco à beira do rio, onde se sentava uma jovem e loira moça, de cabelos esvoaçando na brisa e de olhos azuis profundos na face alva e serena. Sentou-se ao lado dela, suspirando doidamente.

— Nunca me deixaste, não é mesmo? Mesmo depois de todos esses longos e demorados anos, ainda és a minha fiel companheira.

Olhava ao longe, ao horizonte pleno que desejava o sol ardentemente. As pálpebras finas e marcadas tremeram e os olhos castanhos, agora tão miúdos e sem vida, aguaram-se em oceano revoltoso e turbulento. Tirou o boné e depositou no banco, ao lado do corpo ínfimo, que recostou. Ela pôs a mão jovem e pálida sobre a dele, apertando docemente.

— Não chores, meu querido. Por favor, não chores.

— Lembro-me do quanto você era feia e assustadora num primeiro momento. Lembro do quanto a temia, de como queria que você fosse embora. — As lágrimas desbravavam a barba cerrada e caíam do queixo para o colo inerte, a voz era uma fininha estática quase inaudível. — E quanto mais desejava que fosses embora, mas vinhas à noite, e deitavas no meu travesseiro, abraçando-me, dizendo que nunca iria embora. Até que, por fim, meu coração acostumou-se, e te tornaste bela. Tornaste-te anjo que nunca me deixara andar sozinho, e veja aí o paradoxo. — Ele riu por entre as lágrimas copiosas, vendo a ironia de tudo aquilo. A mão dela ainda apoiada sobre a sua.

— Deixar-te-ei hoje, meu querido.

— Sim, eu sei. Choro não por tristeza, mas por tão linda a paz que me me serve de invólucro neste momento. O que teria sido de mim se não tivesse me acompanhado todo esse tempo?

Ela sorriu angelicalmente. Tomou-lhe a mão enrugada e beijou-a com os lábios levemente umedecidos. A brisa ainda bailava seus aloirados cachos quando ela se afastou a passos decididos, sem olhar por cima dos ombros.

O sol brilhava por entre as árvores, pássaros faziam voos acrobáticos no céu anil e o inverno chiava melodicamente no ventinho que soprava do oeste. Tudo, tudo era paz, enfim.

domingo, 15 de maio de 2011

catarse de sábado à noite.

Eu tinha uma festa para ir ontem à noite. Já havia marcado com Jojô há muito tempo atrás e estava até animado durante a semana. Mas festas satisfazem o corpo. E tudo indicava que não era meu corpo que necessitava de cuidados ontem. Troquei, portanto, os embalos de sábado à noite por edredons e duas obras cinematográficas que satisfizeram as aflições catárticas da minha alma.

O primeiro filme em cartaz da noite foi Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole no original, filme de 2011), um relato emocionado de um casal — lindamente interpretado por Nicole Kidman e Aaron Eckhart — que perdera o filhinho de quatro anos e, desde então, encontra dificuldades para seguir em frente com a vida.

A história desenrola-se depois de oito meses da morte fatídica do menino, o que é crucial para a atmosfera e o enfoque do filme. Não há cenas melodramáticas, apelo para choros exagerados ou diálogos fúteis. Os personagens encontram-se numa fase mais madura e dolorosa da morte, questionam a posição de Deus diante de tudo isso, enfrentam a parte mais difícil que é deixar para trás as lembranças e reencontrar o amor que tinham um pelo outro. A dor dos pais consternados, o relacionamento da mãe com o menino que causara o acidente que matou seu filho, os conflitos familiares, tudo ganha uma abordagem sutil, o que aprofunda a emoção que o filme nos causa. Ao afastar-se de um dramalhão, o filme aproxima-se de uma realidade que nos faz doer sinceramente. O baque foi tão imenso que eu ainda chorava copiosamente quando os créditos terminaram de subir.

Tomando fôlego, deixei o cinema norte-americano para assistir uma produção colombiano-peruana chamada Contracorrente (Contracorriente, 2009), bela surpresa ensolarada, lindo relato singelo de amor. Miguel, um simples pescador de um vilarejo peruano, mantém um caso com o pintor Santiago, embora seja casado e seu primeiro filho esteja pra nascer nos próximos dias. O pintor deseja viver junto com Miguel, mas falta coragem para o pescador de enfrentar a sociedade e os costumes do vilarejo. Santiago acaba morrendo num acidente de barco e sua alma fica presa a Miguel, sendo o único que pode vê-lo. É então que os dois vivem a plenitude do amor, embora Miguel precise encontrar o corpo do amado para promover os rituais de passagens e deixar Santiago descansar.

Embora tenha o tema da morte como mote principal também, Contracorrente mostra um lado diferente do fim da vida, guiado principalmente pelas crenças do pequeno vilarejo de pescadores, que acredita que o corpo precisa ser ofertado ao mar para a alma poder descansar. O amadurecimento de Miguel durante esse período, a sua aceitação, sua mudança de postura são mostrados de forma muito sincera, apoiados na ótima atuação de Cristian Mercado. O filme às vezes ganha atitudes acaloradas, um tanto dramáticas, mas nada que tire o equilíbrio de um ótimo roteiro E, acima de tudo, a história de amor dos dois é absolutamente apaixonante.

Eu tenho andado morto por dentro. Preso num vácuo emocional onde não sinto nada, não me emociono com nada que aconteça na minha vida. E cheguei ao ponto assustador de necessitar de filmes, como esses dois, para fazer minha alma sentir alguma coisa novamente. O efeito é devastador. Confesso que estou assustado com essa sensação e espero que tudo isso fique para trás logo. Preciso, urgentemente de qualquer coisa que faça eu me sentir vivo novamente.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

espera.

Esperei.

Esperei como quem crê, como quem faz por merecer, como quem vive pela promessa de que um dia virá. Às vezes, esperei de forma branda, calma, serena; sem olhar para os lados, sem procurar cegamente por qualquer sinal. Outras horas, fui com sede, afoito por cessar a espera. Afoguei-me em tantas expectativas frustradas, em tantos mares tempestuosos de decepções, bebi toda a água salgada e dolorosa do fracasso.

Da espera, colori-te com as cores que me convinham. Sua imagem sem rosto e, ao mesmo tempo, com todas as faces que te dei, feito uma folha branca onde delineei os traços rígidos e rústicos do seu maxilar, os lampejos do lápis desenhando os pelos desgrenhados da sua barba, os rabiscos dando vida aos seus olhos escuros. Esperei, desde então, seu rosto, anonimamente tão íntimo meu, desconhecido, misterioso. Fiz da espera certa, quando seus métodos eram oblíquos e tortuosos, fiz de você meu único, embora você fosse qualquer um.

A espera, contudo, transformou-se em fardo pesado, coisa difícil de sustentar. Metamorfoseou-se em bigorna de desenho animado, amarrada na canela fina, sugando para um abismo sem fim. Buscava explicações para tanta espera e deparei-me com um espelho emoldurado em ouro, refletindo intimamente o ordinário e simplório eu. Vi a mediocridade brilhando à luz do sol outonal, ofuscando minhas pupilas cansadas e entendi: se sequer eu conseguia amar a coisa simplória em que se constituía meu eu, como podia pedir a outra pessoa que aceitasse tal infeliz tarefa?

Da espera, fez-se paz de, talvez, não ser apto e merecedor de receber tal sentimento. Afinal, por que seria o amor, coisa rara, pertinente a qualquer ser humano que encha os pulmões de ar? Não seria o amor precioso e dado como dádiva a poucos que, venturosos, deveriam sentir-se abençoados com a capacidade de amar e, principalmente, de receber amor?

Tenho esperado. Ora aparentemente em vão, ora com a ínfima esperança de ser um desses merecedores, ganhadores de loteria. Tenho esperado.