quinta-feira, 1 de julho de 2010

FFSD - um estranho na faculdade.


Se a minha vida acadêmica fosse um seriado de TV, eu poderia dizer que muita coisa já aconteceu até esse finzinho da 3º temporada. Fazendo um retrocesso displicente, olhando como tudo começou e aconteceu, poderia dizer que os roteristas fizeram uma mudança radical no cast, que, incialmente, incluía eu, Darline e Aline Condack. Ali surgiram os primeiros laços, os primeiros trabalhos em grupo, as primeiras conversas e as primeiras descobertas de como seria essa vida acadêmica que estávamos loucos para desbravar.

Mas, nessa mesma época, eu já flertava inevitavelmente com duas pessoas que eu tinha certeza que gostaria de tê-las na minha vida: Lisys, pelo seu jeito meigo e apaixonante, pelas mui
tas afinidades cinematográficas e culturais; Carol, pelas afinidades intelectuais - ou pseudo-intelectuais, pois não somos muito fãs dessa inteligência chata e burocrática - e pelo vasto compartilhamento de pontos de vistas e opiniões. Eu não podia jurar fidelidade a um dos dois grupos, gostava de estar com todas elas e me sentia muito bem com a companhia de todas. Até que os roteristas resolveram isso da forma como mais gostam: com despedidas. A primeira a dar adeus à série foi Aline, que partiu em busca de uma grande oportunidade, deixando-nos no momento em que estavámos ficando mais próximos. Agora não tinha mais saída: eu precisava juntar esse grupo. Começava a se formar o cast da série.

As coisas entre nós quatro nunca foram tranquilas, é bem verdade. Eram tantas opiniões diferentes ao mesmo tempo, tantas personalidades em choque, tantas divergências de atitudes que precisávamos nos cont
er para evitar que o vulcão entrasse em erupção. Trabalho em grupo, os quatro? Zeus do Olimpo, nunca daria certo. Carol ficava feito louca no laptop, Lis ia desenhar no quadro-negro, enquanto eu e Darline fofocávamos mais ao fundo. Não conseguíamos compor um texto para entregar aos professores sem brigar, sem achar que as palavras não estavam certas, sem divergir, sempre e sempre. A solução para isso foi dividir-nos em duas duplas e, então, apaziguamos os ânimos nesse sentido.

Como toda boa série, nós também tínhamos um point para coloca
r a conversa em dia, fofocar, falar mal dos professores e reclamar das pressões acadêmicas. Não se igualava ao Central Perk, mas o nosso Quinta's Café tinha o seu charme, embora nosso comportamento lá não fosse dos mais charmosos. Com uma dieta à base de massudo, um salgado que valia por uma refeição de boia-fria, acabávamos com o estoque de condimentos, fazendo verdadeiras obras-primas em nossos pratos. Eu e Darline, depois de um tempo, chegamos a conclusão de que usávamos a faculdade como pretexto pra poder encher a pança. Deveras verdade, minha cara, deveras verdade.

Os professores foram um show à parte nessas primeiras temporadas da série: impossível não amar a Simone, com seu jeito meigo, seu conhecimento infinito, seu método tão único de colocar mitologia grega em nossa cabeça. Como não rir do jeito figura da Marília, das histórias cabeludas, dos fatos engraçados que ela narrava com tanta propriedade e dramaticidade? Como não admirar todo o conhecimento da Lúcia, suas aulas fantásticas e tão carinhosamente preparadas? Felipe e seus trilhões de trabalhos e apostilas para a semana seguinte, Valérias e as leituras fonéticas - a duplinha do terror do inglês, como já frisei pelos corredores da faculdade... E claro, impossível de não citar a terrível e tenebrosa LINGUÍSTICA, que funcionaria perfeitamente como vilã da série e como o motivo da insônia dos alunos. Professora Lívia, coitada, deve dormir com as orelhas ardendo...

Tudo caminhava perfeitamente bem, mas os roteiristas, como eu disse lá em cima, são chegados a um "adeus". O começo da terceira temporada trouxe uma notícia bombástica para mim e para Carol: estávamos, a partir de agora, sozinhos. Darline e Lis estavam saindo da série.


Os primeiros meses foram depressivos, confesso, e, muitas vezes, achamos que não íamos aguentar. Os corredores ficaram mais vazios, faltava algo nas conversas, os intervalos das aulas não tinham mais a mesma graça... O Quinta's era agora um lug
ar triste, tornara-se um relicário de boas lembranças e até o massudo resolvera nos abandonar - algo que não aceitamos até hoje: por favor, dono do Quinta's, queremos o massudo de volta!

Mas, por outra perspectiva, a saída das meninas foi um passo inicial para que eu e Carol dêssemos mais abertura para o resto do pessoal da turma. Eu já tinha um bom convívio com praticamente todo mundo, gostava muito do pessoal, de verdade, mas nesse terceiro período comecei a criar novos vínculos e mais afeição por eles. Foi assim que me aproximei muito da Karla, amor de pessoa, da Nati, a meiguice em pessoa e até da Aline, que caiu de para-quedas no meio dessa temporada e já é uma pessoa que eu adoro. Fica aqui também minha admiração enorme pela Cristina, pelo Carlos, pela Vivian, a Kelry, as "professorinhas", o Augusto, a Gleika, o Robson, a Suellen (não posso esquecer ninguém, vai ficar feio kkkkkk) e até a Cléubia - que, pela figura que é, não cabe nesta série, precisa ir estrelar uma série própria com todo o requinte de Hollywood. Falo sério.

E finalizando essa 3º temporada, depois de muito trabalho e dedicação, finalmente apresentamos nossa primeira peça no teatro da faculdade, marcando nossa estreia triunfal nos palcos (fotos nos slides abaixo). Mais um marco para essa turma que, aos poucos, vai adquirindo sua própria personalidade e ficando cada vez mais unida. Que venham as próximas temporadas logo! - quer dizer, logo não... deixa eu curtir minhas férias primeiro.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

feliz aniversário, Di.

(...)

Te amo, okay meu irmão? Tenho poucas certezas nessa vida, mas essa é uma das inexoráveis. Te amo e nada nesse mundo muda esse amor.

Feliz aniversário.

Do seu amigo-irmão.
Nael.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

em 20 anos.

Projeção A

Giro a chave na fechadura e empurro a porta, exasuto. O silêncio impregna cada centímetro da escura sala, enquanto me movo para o interior do apartamento. Fico aguardando a Belle vir correndo em minha direção pelos corredores, deslizando pelos tapetes, ansiosa por um afago no focinho comprido. Um rápido relapso de memória. Uma Belle massacrada pela osteoporose levanta a cabeça na varanda, observa com seus enormes olhos amendoados quem acabara de chegar e, fatigada demais pela doença, volta a deitar-se. "Lembrar de marcar veterinário", anoto em minha mente abarrotada de informações inúteis, enquanto largo a papelada da escola sobre o sofá e vou à cozinha beber um gole d'água.

A secretária eletrônica marca zero recados, o que não me surpreende. Dirijo-me ao aparelho de som e coloco um dos meus velho álbuns de Tom Jobim num som ambiente que não incomode os vizinhos, mas que possa ser ouvido de qualquer cômodo do apartamento. Abro a geladeira e contemplo enlatados, congelados e afins. Não tenho vontade de comer nada daquilo. Perco o apetite e direciono-me para o banheiro. Gasto algum tempo no banho, a cabeça borbulhando de pensamentos desprazerosos. Tudo é muito só, escuro, taciturno. A água muito quente não faz ir embora a sensação de frio que deteriora, lentamente, o pouco de esperança que me resta.


A cama enorme e fria convida-me a deitar-se. Pego algumas provas para corrigir sob o edredom, com Tom Jobim sussurrando ao fundo: "Fundamental é mesmo o amor: é impossível ser feliz sozinho."




Projeção B

Giro a chave na fechadura e empurro a porta, exasuto. O som da televisão vem ao meu encontro, enquanto ele vira a cabeça e me lança um enorme sorriso. Belle, deitada em seu colo com toda a preguiça do mundo, começa a abanar o rabo e a latir de contentamento. Largo a papelada da escola sobre o outro sofá, dou-lhe um beijo amoroso e acaricio o focinho comprido e muito lívido de Belle. "Você demorou tanto que não consegui esperá-lo para jantar, Rapha", ele me diz com a voz doce, deitando a cabeça em meu ombro. "Ah, pois é. Acabei me enrolando com alguns alunos depois da aula. Estavam com dúvidas para a apresentação de um seminário amanhã. O que tem pra comer?". "Como cheguei cedo, fiz aquela lasanha de quatro queijos que você tanto gosta". "Ah, não acredito! Você não existe!", exclamo, levantando-me e indo buscar uma boa porção da massa.

A secretária eletrônica marca quatro recados e, entre eles, há um de um grande amigo marcando um jantar em sua casa no fim de semana. Confirmo que estaremos lá, já me servindo de uma nova porção da lasanha. Gasto, em seguida, algum tempo no banho, a cabeça completamente relaxada em meio ao vapor da água muito quente. Ele entra no banheiro para escovar seus dentes, Belle seguindo-o de perto. "Já vou deitar, tá bom? Amanhã terei que ir um pouquinho mais cedo para a firma. Quer que eu vá de táxi e deixe o carro para você?". "Não, pode ir com o carro que eu pego uma carona com a Lu". "Então tá bom. Boa noite."

Alguns minutos depois, entro no quarto iluminado tenuemente pelo abajur. Ele já adormece num sono tranquilo e sereno, acompanhado por Belle, qie dorme no tapete ao lado da cama. Mergulho sobre o edredom, abraço-o e, em poucos minutos, o sono me pega também.


Projeção C

Giro a chave na fechadura e empurro a porta. Embora exausto, largo a papelada da escola sobre o sofá e corro para ligar o computador. Aquilo martelara na minha cabeça durante todo o dia e, embora tudo fosse embaçado pela bruma do tempo, tinha quase certeza de que não estava equivocado. Belle coloca-se ao meu lado, lívida por um afago e, enquanto minha mão esquerda manuseia o mouse com perspicácia, a direita acaricia seu focinho comprido e feliz.

Como sequer lembro o nome, necessito da ajuda de um site de busca para encontrá-lo. E qual é minha surpresa quando as letras na tela, formando o título "Sob o Boné", confirmam minhas expectativas: aquele pedaço virtual tão importante da minha vida ainda está "vivo".

Gasto inúmeras horas relendo cada um daqueles textos quer retratam tão perfeitamente as coisas pelas quais havia passado, sentindo um ar nostálgico ganhar conta de mim lentamente. É profundamente revigorante relembrar tantas pessoas que passaram pela minha vida, todas aquelas situações que, juntas, formavam o ser humano que eu era agora.

Então, num dos posts, esbarro com expectativas que havia feito para a minha vida há 20 anos atrás. Leio tudo atentamente e rio de mim mesmo, sabendo que, naquela época, não podia entender que é impossível prever aquilo que ainda não havia sido escrito. E que essa incerteza do que está na próxima curva da vida é o que nos faz seguir sempre em frente, ávidos pelas surpresas que podem nos estar reservadas.

Desligo o computador e vou cuidar da minha vida.




terça-feira, 8 de junho de 2010

por onde andei.

O blog encontra-se novamente às moscas. Nenhuma surpresa, visto que isso ocorre com uma facilidade que não posso controlar. Não é sempre que tenho vontade de escrever, tampouco tempo de dividir com vocês o que anda se passando na minha ordinária e entediante vida. Mas quando me afasto deste pequeno espaço virtual, acabo afastando-me, na mesma proporção, de mim mesmo. Sem pieguices hiperbólicas, desde que esse blog tornou-se o principal fator de liberdade, a principal válvula de escape para as coisas que eu tanto temia, ele é parte intrínseca de mim. E quando ele não é atualizado por tanto tempo, como tem ocorrido, tenha certeza de que há algo errado.

Então, o que está errado desta vez?


O último post de verdade feito aqui foi às vésperas da virada de ano, revelando os 5 fatos marcantes que transformaram 2009 em um ano único para mim. É logo ali, na segunda posição daquele ranking, que vejo o motivo da inércia em que minha vida se afundou nesse primeiro semestre de 2010. Novamente ele, como já era de se esperar.
A verdade é que alguma coisa transcedental ocorreu na transformação do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro. Sentado à praia de Cabo Frio, com Di, Marcinho e Cecília, segui a dica de Léo e apaguei a última lembrança física que ainda tinha de tudo aquilo que havia ocorrido. Eram 2 fotos que havia tirado com o meu celular no dia 28.06 e que nunca haviam saído dali. Eram minhas. Somente minhas. Não queria me desfazer delas. Mas Léo dizia que aquilo estava me bloqueando. Que todo aquele apego não me deixava seguir em frente e que eu devia apagá-las da memória do celular. Prometi que faria aquilo na virada do ano. Uma resolução imbecil, ao que parece, mas que exigiria muito de mim.

Bom, se trata-se de uma superstição besta eu não sei, mas a verdade é que na manhã de 1º de janeiro eu já me sentia diferente. E os meses que se seguiram foram de desintoxicação mesmo. Reabilitação das fortes, sumindo com cada resquício daquela experiência dos recônditos da minha mente. E no fim de janeiro, sem sombras de dúvidas, já estava 100% curado.
Isso explica a ausência de posts durante o primeiro mês do ano, mas e os que sucederam?

A paixão que eu alimentei durante tantos meses havia ido embora, mas marcas profundas foram deixadas ali. Me tornava, lentamente, numa pessoa apática, indiferente ao que ocorria ao meu redor. A decepção havia sido tão grande que eu havia deixado de acreditar em coisas que sempre foram minhas verdades e os meus desejos. Eu não tinha mais forças para procurar um amor. Meu coração se apegou momentaneamente a um distúrbio emocional que me persegue, e agora vejo que ele só o fez para proteger-se. Não havia chances de se magoar apegado a isso, porque tratava-se apenas de uma ilusão utópica.


Em meio a essa inércia sentimental, os corredores da faculdade me trouxeram certa ventura. Foi um sopro de ar fresco a troca de olhares, o flerte e os sorrisos que antecederam aquela noite em que parei à escada, diante sua expressão tão peculiar, estiquei a mão e disse: "me chamo Raphael". Foi natural, orgânico, um começo que hoje em dia entra em discrepância com o que veio depois. Tivemos momentos ótimos, uma tarde inteira onde, para mim, parecia estar tudo perfeitamente caminhando, enquanto ele estava insatisfeito e incomodado.
Eu sentei na escada do Léo e ouvi tudo que ele tinha a dizer. Fui chamado de insensível, embora estivesse com a cara lavada pelas lágrimas. E quando ele foi embora, decidido - quer dizer, pelo menos o que pareceu ser uma ida decidida -, eu e meu choro, sozinhos, contemplamos juntos o imbróglio sentimental em que estávamos naufragados. Juntando os cacos de memória para ver o quadro com amplitude, tentei encontrar um bode expiatório, algo em que poderia colocar a culpa do fracasso daquela relação recente e efêmera.

Poderia dizer que foi aquele sentimento inapropriado que já me acompanhava há anos e que sequer sabia distinguir o que ele era na verdade. Poderia dizer que a culpa foi dele, que estava me cobrando mais do que deveria, que queria mais do que eu podia realmente dar. Podia até mesmo falar que a culpa era do Tião, que havia transformado meu coração numa rocha impenetrável, que tinha me ensinado a ser frio e calculista.


Mas a verdade é uma só. Cito aqui uma frase da sequência inicial de Annie Hall, de Woody Allen:


"Talvez eu não queira fazer parte de nenhum clube que me aceitaria como membro. Essa é a piada chave para minha vida adulta em termos de relacionamento."

Ao rever esse filme no domingo, eu descobri que é exatamente desse mal que sofro. Quer dizer, eu já sabia disso, já havia refletido e me questionado sobre soluções para esse distúrbio - porque é assim que considero esse problema -, mas o filme retomou essa ideia na minha cabeça. Havia falado com o Léo, certa vez, que já tinha pensado em procurar um psicólogo para tentar dar jeito nessa minha inclinação ao impossível, ao utópico, à essa tendência perturbadora de querer apenas o que não posso ter. E talvez seja mesmo a coisa mais certa a ser feita.

Portanto, qual seria a resposta para o título desse post? Por onde, de verdade, eu andei?
Pelos mesmo caminhos incertos do autoconhecimento que tenho andado há tanto tempo. Pela mesma escuridão do caminho solitário que nos guia a dentro de nós mesmos, onde se escondem os segredos, as dúvidas, os medos...
E não estou sequer perto de encontrar o caminho certo para tornar essa caminhada mais fácil ou menos complicada. Mas não posso desistir dela, disso eu sei.

Continuo andando, portanto, um caminho só.

domingo, 21 de março de 2010

uma manhã qualquer.

Eu queria ser desses seres humanos simples, que sabem exatamente o que são e o que querem e que sabem controlar suas idiossincrasias, imperfeições e seus impulsos em direção ao que almeja. Queria ser uma dessas pessoas decididas, que coloca em suas palavras o que realmente quer dizer, sem gastar palavras por motivos banais ou tropeçando nos próprios conceitos que acredita serem os seus. Queria ser transparente, verdadeiro, objetivo; queria acreditar em mim mesmo, no ser humano que sou e queria ver capacidade suficiente na minha essência para superar a terrível perspectiva de nascer e morrer na mediocridade.

Há complexidade em meu ser, mas, infelizmente, não trata-se da complexidade das grandes almas. É apenas uma pequena conturbação interna inerente às pessoas simplórias, um incômodo minúsculo causado pelo mal-estar do lugar comum, da mesmice, do ordinário. O que vive em mim e me faz acordar, às vezes, com uma prepoderante inquietação é a certeza inquestionável de não estar em lugar algum, de não ser ninguém. E escola filosófica alguma é capaz de apaziguar esse sentimento de lucidez diante da limitação da minha existência.

(...)

How did life get this hard?