domingo, 26 de julho de 2009

crônica de um coração partido.

There's still a little bit of your taste in my mouth.
There's still a little bit of you laced with my doubt.
It's still a little hard to say what's going on.
(Damien Rice, Cannonball)


Eu trocaria sem pestanejar a tarde do dia 28 de Junho por todo o mês que o antecedeu, agora eu percebo. Trocaria a chance que tive de ter olhado em seus olhos pelo frio contato de sua voz pelo telefone, se pudesse dessa forma manter toda a magia que existiu em um passado não tão remoto. E talvez nunca ter estado acomodado entre seus braços mas manter a doçura de suas palavras clandestinas no home do meu orkut seria uma proposta tentadora perante a ausência que agora aloca-se no canto do meu quarto antes de eu dormir, uma ausência física, vibrante, com um luminiscência que impede meus olhos de se fecharem.

Alguém mais desavisado pode achar erroneamente que estou falando de um amor ardente e impactante, desses dignos de um best-seller em liquidação nas prateleiras de uma loja de departamentos. E eu aceito sem argumentação possível que você agora tome uma postura zombeteira ao saber que só nos vimos uma vez e, todavia, eu me encontro nesse estado de devastação interior. Eu, na verdade, tento compreender até agora como dou poder às pessoas de fazerem isso comigo, como posso ser tão vulnerável às armadilhas do relacionamento social. E se soo patético expondo isso dessa forma tão transparente, acredite, é ainda mais patético ter certeza de que você não tem controle algum sobre os seus sentimentos.

Contudo, eu precisava sonhar. Eu estava profundamente mergulhado na amargura da minha existência e precisava de qualquer coisa para me segurar, qualquer experiência quie significasse um pouco de oxigênio fresco preenchendo meus pulmões. Poderia ter vindo de qualquer forma, mas a vida gosta de te levar às alturas para aumentar o tamanho do tombo: o oxigênio tão ansiado veio como uma utopia, como algo irreal, inverossímil. Era quase fictício que de súbito surgisse na minha vida, como trazido pelos bons ventos, tudo que eu sempre almejei numa pessoa com quem gostaria de partilhar minha vida. Ninguém pode me culpar por estar entregue depois da troca de algumas mensagens: suas palavras eram colocadas no lugar certo, me seduzindo lentamente, me trazendo uma leveza interior que eu nunca antes havia experimentado. Quando os caracteres em times new roman se tornaram fonemas pela linha telefônica, tornou-se ainda mais impossível não me render aos seus encantos; toda vez que minha insegurança e baixo auto-estima roubavam a cena, era sua voz grave que me acalmava sem qualquer dificuldade. E quando desci do ônibus sob o céu cinzento na manhã de 28 de Junho, era indubitável: eu estava perdidamente apaixonado.

Os dias de euforia foram poucos; o brilho acentuado dos meus castanhos causados por aquele encontro foram ficando foscos e sem vida, refletindo o vazio que estava se encaixando lentamente entre minhas costelas. Eu não sabia o que estava acontecendo, sequer sabia descrever o que estava sentindo. Não era sabido desde o começo que as coisas seriam desse jeito? Naquela mesma semana eu ouvi sua voz pela última vez, com a vã promessa de que nos veríamos novamente logo. Privado de sua voz, a única coisa que me acalmava, me contentei com algumas linhas de depoimentos que diziam que tudo ainda era como antes. Não, não era. Eu precisava mostrar que estava doendo em mim e seguiram surtos de palavras desconexas, cobranças que eu não podia e não devia fazer e uma demonstração desesperada da necessidade que ele se tornara para mim. As respostas eram monossilábicas, simplórias, desimportantes. Ouvi muito sobre o seu sofrimento, enquanto o meu ficava em segundo plano, não merecia ser saciado. E, finalmente, como última recompensa pela minha dedicação, mereci sua completa indiferença.

As pessoas em volta de mim me ajudaram, me aconselharam e tentaram me fazer seguir em frente. Eu ainda não podia. No show da Vanessa da Mata, ao som suave de "Amado", a catarse chegou ao ponto de ebulição: o choro veio forte, me derrubou e encharcou meu rosto, enquanto meus amigos me abraçavam e consolavam. Diego perguntou por que eu estava chorando e eu berrei, com a cara avermelhada: "Porque eu amo aquele filho da puta". Efeito do álcool ou exposição do que realmente sentia? Confesso que ainda não sei.

Ontem, sufocado pelo jeito com o qual ele vinha me tratando, fui veemente ao dizer que sabia o motivo de sua indiferença:

(...) "Eu sou um cara bom, que sabe quem é, o que quer e onde quer chegar. Posso não ter músculos avantajados nem um corpo definido, mas tenho caráter, sei respeitar as pessoas com quem me relaciono e deixo transparecer os meus sentimentos, porque isso não é um defeito mas uma virtude. E infelizmente nesse meio onde fui obrigado a procurar uma pessoa para dividir minha vida, tudo isso que sou não vale de nada.

Resolvi deletá-lo por tempo indefinido da minha vida virtual, onde ainda havia resquícios de sua existência. Expliquei pacientemente os motivos disso, que não estava tentando apagá-lo da minha vida, mesmo porque não podia fazer isso, já que as marcas deixadas por ele eram profundas demais, mas que seria mais fácil para o meu coração cicatrizar dessa forma, sem abrir meu orkut ou meu msn esperando algum contato dele. Sua resposta foi indiferente e egoísta: "Eu entendo, mas você sabe que não te deixo, rs."

Bem, parece que dessa vez não cabe a você a decisão.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

trilha-sonora de noites tristes.




"Quando eu me encontrar"
Composição: Candeia (Antônio Candeia Filho)
Interpretação: Cartola (Agenor de Oliveira)


"Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar."



Não sei, mas ultimamente sinto que minha vida se tornou pequena demais para mim.
Essa música representa magnificamente a necessidade quase vital que sinto ultimamente de finalmente
nascer.
Ando depressivo e chato, por isso a ausência de posts...

Aproveitem as férias para ouvir um pouco de Cartola...
No mais, se cuidem caros amigos.
Amo vocês.

domingo, 5 de julho de 2009

sobre a nova nomenclatura do blog.


Diego ontem comentou comigo, após visitar o blog: "Cara, que nome é aquele que você colocou? Nada a ver!", e eu retruquei: "Esse sempre foi o nome, Diego." E o pior de tudo é que é verdade. E isso me levou a pensar como a língua inglesa tem o poder de influência sobre nossos gostos e preferências. Há 1 ano atrás, quando num domingo insólito eu procurava um nome para esse humilde blog, fiz todas as combinações de palavras, termos e gírias americanas, dispensando completamente a minha própria língua. Até que, finalmente, "All Crap I Hide Under That Cap" me pareceu a nomenclatura exata para a proposta desta página na internet.


Contudo, durante esse primeiro período da faculdade de Letras (tema de um dos próximos posts), um sentimento contrário ao que sempre senti me invadiu: um forte afeto pela complicada e hermética língua portuguesa. Logo eu, que escolhi tal curso superior exatamente por causa do Inglês, me vi preso nas armadilhas e nos encantos da minha própria língua - caminho um tanto mais óbvio do que aprender a amar a língua de outro povo.

Então me vi na difícil missão de transpor o simbólico título em inglês para minha língua materna sem perder a essência que tais palavras emanavam. Pensei num tanto de títulos esdrúxulos até perceber que não havia escolha: All Crap I Hide Under That Cap precisava ser transformado em (A Porcaria Escondida) Sob O Boné.

Talvez eu nunca tenha explicado o porquê deste nome, mas cabe agora uma breve síntese da simbologia deste título: esse blog foi criado dias antes de eu lidar com um dos temas mais complicados da minha vida, minha sexualidade. Naquela época - há um ano atrás, mas hoje em dia parece décadas -, havia tanta coisa guardada na minha cabeça, tantos pensamentos, confissões, amarguras e desejos que eu precisava expressar de alguma forma rapidamente. Cada palavra que foi ganhando forma nesta página era a materialização de alguma porcaria que eu não conseguia falar com ninguém, nem com os meus melhores amigos. E até eu me surpreendi quando me peguei falando de coisas que nunca antes havia falado com ninguém. E ao mesmo tempo, o título era uma metáfora para o uso permanente do boné, o que praticamente define minha descrição.

O novo título não soa como eu gostaria, mas acho que é a nomenclatura exata para a proposta do blog - a descrição de fatos desimportantes de uma vida medíocre. Divirta-se (se puder)!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

28.06

"O sexo é o consolo que a gente tem
quando o amor não nos alcança."


Gabriel García Márquez

Eu nunca fui de acreditar nas armadilhas providas pela internet. Sempre fiz um favor a mim mesmo de manter meu coração afastado, protegido da frieza do contato virtual, com medo de ele ser despedaçado por falsas demonstrações de sentimentos. Mas quando avistei seu rosto na minha página de Orkut com um simpático pedido de adição, confesso que não resisti. Não tenho o costume de aceitar pessoas que não conheço, mas alguma coisa me dizia que devia aceitá-lo. Foi uma sorte ter dessa vez seguido meus impulsos ao invés dos meus preceitos sobre o convívio sócio-virtual.

Empenhamo-nos em nos conhecer um pouco melhor nos dias que se seguiram e, após ouvir sua voz ao telefone, já sabia que seria impossível conter minha mania estúpida de envolver sentimentalismo infantil aos relacionamentos que sequer existiam ainda.Entretanto, dessa vez havia uma certa reciprocidade - do qual eu duvidei enquanto pude, no intuito de manter meu já inerente pessimismo - e marcamos de finalmente nos ver no dia 28 de Junho.

Seus olhos me perfuraram veementemente assim que entrei no carro, com um tênue paradoxo entre inocência e libertinagem. Perderam-se em mim por alguns constrangedores segundos, analisaram cada centímetro do meu corpo lânguido, cada imperfeição do meu rosto assimétrico, e surpreenderam minhas expressões faciais discrepantes que iam de nervosismo crônico ao total regozijo por estar vivendo uma manhã utópica. Meus sentidos também preocuparam-se em tornar físico o que era apenas fotografia
até a alguns instantes atrás e um contentamento exuberante me preencheu ao perceber o quão verossímil eram seus traços firmes, suas extremidades brutas, suas delicadas marcas expressivas, seu sorriso convincente e persuasivo e seus olhos enigmáticos e convidativos. Ele não era uma materialização dos desejos incógnitos da minha mente. Ele era real.

Ele me ensinou a arte da invisibilidade. Fomos transportados para um mundo só nosso, um golpe de mestre nas proibições sociais - ou um soco na cara do preconceito descomedido. E eu não preciso me esforçar muito para reaver dos recônditos da minha mente cada minucioso detalhe daquelas muitas horas que passamos juntos: sinto o cheiro da sua pele alva impregnado em minhas narinas, o som da sua voz ressonante costurando-se com as batidas eletrônicas vindas do rádio e o seu gosto ainda está alocado em cada milímetro das minhas glândulas gustativas.

E então, quando o negrume da noite já havia pintado o céu acinzentado de inverno, nos despedimos com a incerteza nos rodeando como um animal silvestre faminto. Senti pela última vez seus braços me guardarem próximo ao seu corpo e entrei no ônibus com um vazio se encaixando devagarinho sobre meu abdômen. No dia seguinte, era notável o brilho enigmático nos meus olhos, tanto que foi um comentário quase unânime entre meus amigos. E mesmo que não voltemos a nos ver, mesmo que tenha sido apenas uma tarde, eu nunca me esquecerei que você foi a primeira pessoa a fazer meus olhos brilharem dessa forma.